sábado, agosto 18, 2012

Eucaliptos nórdicos


Eucalyptus nitens numa plantação serrana no norte de Portugal
Numa monumental gaffe, o comentador televisivo (não o chamaria jornalista) Miguel Sousa Tavares, ao serviço da SIC, concluiu de forma brilhante que, com a proposta de alteração da legislação que regulamenta projetos de florestação de espécies de rápido crescimento, Portugal correria sérios riscos de ter mais eucaliptos que os países nórdicos (ou algo semelhante, porque não consegui verificar com exatidão a frase, uma vez que a gravação do programa foi tirada de imediato do site da SIC após alguém se ter apercebido da asneira proferida pelo menino bonito da estação).

Não é preciso explicar que os eucaliptos não se dão em climas nórdicos. No entanto, esta questão levanta uma interrogação interessante: e se dessem? Nas recorrentes discussões que tenho com as mais diversas pessoas sobre os eucaliptos na floresta e sociedade Portuguesas, está latente a ideia, sobretudo nas pessoas mais críticas à presença desta espécie no nosso País, que a sua presença é sinal de terceiromundismo que, supostamente, caracteriza a política pública e privada florestal em Portugal (opinião que não partilho, como será evidente).

Acontece que, também nos países nórdicos (que começam, para mim, a norte dos Pireneus), a utilização de espécies exóticas é prática corrente, tanto por parte dos serviços públicos como por proprietários privados. Espécies como Pseudotsuga menziesii, Larix kaempferi, Picea alba e P. sitchensisAbies grandis, Pinus nigra e outras do mesmo género, Quercus rubra, Robinia pseudoacacia, Populus das mais diversas espécies e seus híbridos são plantadas, sempre que estas espécies oferecem boas perspetivas da sua valorização. Curiosamente, esta questão não é alvo da caça à bruxa que assistimos cá em Portugal em relação aos eucaliptos. Com o pragmatismo característico dos nórdicos, a questão é colocada na perspetiva da função principal de uma certa área florestal: se sua função é de produção florestal, então há-de-se escolher as melhores espécies em relação a esse objetivo, sem dogmas nem preconceitos. Por isso já assisti, por exemplo nos Países Baixos donde sou natural, à eliminação de Pseudotsugas numa área de conservação e a sua plantação logo ao lado, onde foi atribuída a função de produção.

Voltando à interrogação inicial: e se os eucaliptos se dessem por lá? Eu não tenho a mínima dúvida que, tal como cá, os países nórdicos recorriam à plantação de eucaliptos. Só não o fazem porque os eucaliptos não se dão por essas terras! Por enquanto, porque nas serras de Escócia já foram plantados eucaliptais da espécie Eucalyptus nitens, mais resistente ao frio que o "nosso" Eucalyptus globulus (como a foto acima comprova, tal como o post aqui), na perspetiva de constituirem possíveis culturas energéticas.

Henk Feith
Declaração de interessa: trabalho para ALTRI, grupo que integra a fileira da indústria de celulose. No entanto, as opiniões aqui expressas o são a título pessoal.

13 comentários:

Anónimo disse...

Toda a gente sabe que "lá fora" é diferente.
IsabelPS

Zé Bonito disse...

Quando falamos de floresta ou de qualquer outra área/atividade que interfira com o património natural, devemos admitir que se avancem argumentos defensivos provocados pelo medo do predomínio da monocultura e da perda da biodiversidade. Claro que não são os produtores florestais que têm que resolver estes receios, mas também é verdade que a indiferença (ofical) sobre o assunto acompanhada por leis como a referida, agravam o problema e extremam posições. Talvez a solução seja apontar baterias para medidas que anulem tais receios, área em que especialistas como o Henrique Pereira dos Santos têm um papel determinante a desempenhar.

Henk Feith disse...

Caro Zé,

Concordo com o sentido do seu comentário.
O exemplo que é dado pelos gestores profissionais de eucaliptais em Portugal, leia-se as empresas associadas às indústria de celulose, mostra que a questão da biodiversidade deve ser atendida através de uma gestão adaptiva. E é aí que até se torna indiferente se estamos perante plantações de eucaliptos, pinheiros mansos ou ciprestes, o que interessa é como a biodiversidade é considerada no desenho das plantações.
Infelizmente, a maioria das plantações de eucalipto não têm a qualidade das plantações das empresas de celulose, contribuindo muito para a má-fama da espécie, que devia ser a má-fama dos produtores incompetentes.
A nossa experiência nos mostra que há um ponto ótimo na percentagem da área dedicada à conservação de natureza e biodiversidade nas áreas produtivas e aparentemente este ponto situa-se nos 10%. Se se dedicar em média 10 % da área de projetos a conservação (pode variar e projeto para projeto), consegue-se um retorno ambiental muito significativo sem que esse esforço torna o projeto economicamente inviavel. Abaixo disto, tem pouco impacte e acima disto começa a por em causa o investimento global (uma vez que as áreas de conservação não são remunerados pelo serviço que presta).
No meu entender, devia ser aí que a discussão entre produtores e conservacionistas se concentra, e não na estigmatização de espécie A, B ou C. Agora, dizer cobras e lagartas de uma espécie, qualquer um faz (e exemplos de políticos, opinion-makers e jornalistas abundaram recentemente); discutir tecnicamente as melhores estratégias para defender os valores de biodiversidade em projetos de florestação, ai já é preciso alguma capacidade técnica e experiência prática, essa que curiosamente é muito mais escassa nas ONGA que nas empresas de gestão florestal.

Henk Feith

PD disse...

Parece-me evidente que vários "comentaristas" lavam mais branco na defesa de interesses escusos, neste país em que os pequenos, médios e grandes interesses são protegidos e incentivados pelos poderes públicos e por toda uma classe de académicos e técnicos pretensamente defendores do ambiente e do património natural mas que têm de justificar as suas acções profissionais pagos pelas grandes empresas "amigas do ambiente" como as celuloses, as EDP`S, etc. Portugal no seu melhor.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro PD,
e argumentos, tem?
Ou o seu estilo é mais conversa chilra, que argumentos dá muito trabalho e obriga a mais estudo?
henrique pereira dos santos

Henk Feith disse...

Caro PD,

Presumo que fale com conhecimento de causa. Por isso, peço-lhe somente de me dar dois nomes dos "comentaristas que lavam mais branco", de dois académicos e dois técnicos pagos pelas grandes empresas "amigas do ambiente". Depois voltaremos a falar.

Ah, e agora já o seu nome, para saber com quem estou a falar. Não ficava mal para alguém tão crítico à "toda uma classe".

Henk Feith

PD disse...

Boas
Caro Henrique Pereira dos Santos, gostaria de agradecer-lhe a possibilidade que me deu de enriquecimento do meu pobre vocabulário com a sua "conversa chilra". Relativo aos argumentos (dentro do contexto de eucaliptos = menos biodiversidade)fico um pouco perplexo que tenha de os apresentar, ainda mais se no contexto pt dizem que 40% da nossa floresta é constituida pelo dito e pretendem aumentar, somando as outras exóticas realmente parece-me que estámos a assistir a um "holocausto" florestal e por arrasto ambiental.

Caro Henk Feith,
quando referi, pagos pelas grandes empresas, era em sentido lato de colaboradores, trabalhadores,quadros dessas empresas (mas incluo alguns com menos sentido ético, presumo que uma minoria) e nessa condição por necessidade/interesse (alguns por convicção) manifestam-se de forma intelectualmente desonesta, mais não seja por opinarem em público. Quanto ao tom e forma das suas observações devo dizer que apesar de não ter nascido em Portugal está muito bem integrado. O meu comentário não tinha como objectivo denegrir "toda uma classe" mas também não tenho muitas ilusões em relação a esta e as "outras classes" por mais beneméritas que sejam. Em relação à minha ident. fiquemos pelo PD (por enquanto), odeio duelos ao pôr do sol. Presumo como bom cidadão quando verifica irregularidades (e já deve ter assistido a muitas) vai logo a correr a denunciá-las ao M.P. ou pelo menos alertar toda a comunidade interesada.
Os meus comentários foram feitos na perspectiva de defesa ambiental num blogue que se afirma "de Reflexão sobre Ambiente e Sociedade" e não gostei do tom geral (neste tópico)pró-eucalipto deslocado repito num blog "de Reflexão sobre Ambiente e Sociedade" (na minha humilde, ignorante mas honesta e interessada opinião)

Boas tardes

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro PD,
Explique-me então como quer discutir se se dispensa de apresentar argumentos? É que discussões de fé não é comigo. No caso em concreto, nem percebi sequer qual é o seu argumento (excepto o de que todos os que não pensam como o PD só pode ser por interesse).
Resumindo, não quer discutir, veio aqui dizer que na sua opinião todos deveriam ter a sua opinião.
Está no seu direito.
henrique pereira dos santos

PD disse...

Boas

Caro Henrique Pereira dos Santos,
Peço imensas desculpas por só agora ter tido oportunidade de responder e também/essencialmente por ter criado alguma falha de comunicação concerteza provocada pelo meu 1º comentário demasiado dirpersivo e que saiu fora do ambito deste tópico (que mantenho mas que nos levaria para outros caminhos mais tortuosos e gerais entre poder económico,politico,corporações,o papel da comunicação social, lobbies e o desrespeito total pela natureza e conservação do nosso património natural)
Quando afirma "Explique-me... É que discussões de fé não é comigo" presumo que esteja a referir-se às várias questões acessórias/dispersivas levantadas no 1º com. do qual já persignei-me.
Quando afirma " No caso em concreto, nem percebi sequer qual é ... Está no seu direito.", o essencial dos meus argumentos (na perspectiva ao qual me deveria ter singido desde o ínicio) e defendido no 2º com. passa pela apologia do eucalipto/exóticas como solução económica/social quase profética no ordenamento do território aqui defendida, sem contraditório num blog de "Reflexão sobre Ambiente e Sociedade" em que a defesa do ambiente (e quanto a mim a sociedade) é pura e simplesmente condenada a uma morte rápida que eu resumi "Relativo aos argumentos (dentro do contexto de eucaliptos = menos biodiversidade)fico um pouco perplexo que tenha de os apresentar, ainda mais se no contexto pt dizem que 40% da nossa floresta é constituida pelo dito e pretendem aumentar, somando as outras exóticas realmente parece-me que estámos a assistir a um "holocausto" florestal e por arrasto ambiental.".
Resumindo e centrando a questão na formula eucaliptos = perda de biodiversidade, agravado pelo facto da nossa floresta ser constituida essencialmente por exóticas e monoculturas a apologia das mesmas para mim é mais que dramático e inaceitável, ainda mais num espaço preocupado com o ambiente. Se ainda não consegui transmitir a minha posição agradecia que me confronta-se.

PD

Henk Feith disse...

Caro PD,

Ambio é um espaço de reflexão. Não há reflexão sem dissonância e diversidade de opiniões (Estaline bem tentou, mas deu pelo torto). Afirma que não há contraditório no blogue Ambio, mas os seus comentários provam o contrário.
Afirma que a nossa floresta é constituida em 40% por eucaliptos, quando são 20%.
Depois reafirma a nossa floresta é essencialmente constituida por exóticas e monoculturas. Gostava de saber se inclui aqui também as monoculturas de sobreiro, azinheira e pinheiros, entre outros. Se incluir, tem razão no que diz.

Voltando ao meu post, o essencial dele é que a opção pelas exóticas não é um exclusivo Português, mas prática recorrente em todos os países considerados "amigos do ambiente". E isto sim, acho que merece reflexão.

Ninguém lhe pede para gostar de eucaliptos. Agora, não vou deixar de escrever sobre eles só porque acha que não fica bem num blogue sobre o ambiente. E também isto merece reflexão.

Cps,

Henk Feith

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro PD,
1) "apologia do eucalipto/exóticas como solução económica/social quase profética no ordenamento do território aqui defendida". Aqui onde? No post do Henk? Responda ao Henk e ao post e está o problema resolvido. Se o aqui se refere a este blog, está muito enganado, tem posts para todos os gostos e comentários com muitos contraditórios.
2) "eucaliptos = menos biodiversidade" O que é que isto quer dizer? Que se eu puser um eucalipto no jardim da Gulbenkian passa a haver menos biodiversidade? Que a plantação de eucaliptos implica necessariamente menos biodiversidade? Mas que tipo de plantação? Com que modelo de gestão? E menos em relação a quê? Ao acacial da Nova Austrália? A um pinhal bravo? A um campo de trigo? Seria bom explicar o que realmente quer dizer porque assim não conseguimos saber o que estamos a discutir.
3) "estámos a assistir a um "holocausto" florestal e por arrasto ambiental". Sabia a área de floresta tem aumentado no país? E que não há nenhuma relação entre área florestal e maior diversidade biológica?
henrique pereira dos santos

PD disse...

Boas
Definitivamente esta não é a minha praia e boa sorte com o blog. Da profundeza da minha ignorancia sincera o "ambiental" está manifestamenta a mais no cabeçalho, "admiro" a "coerência" e a "pluradidade" manifestada.
Já agora o PD é de Paulo Dias.

Boas noites

Henrique Pereira dos Santos disse...

Paulo Dias,
voltamos então ao princípio: e argumentos?
henrique pereira dos santos