domingo, novembro 11, 2012
A tal senhora...
Amanhã a chancelera Angela Merkel visita Portugal.
Nada me leva contra a chancelera nem tenho particular simpatia pela corrente política que representa. Reconheço-a como uma das pessoas mais poderosas do mundo e provavelmente a mais poderosa de Europa. Para mim é mais uma numa longa lista de estadistas que criaram em formaram a Europa que temos hoje em dia, com todos os seus defeitos e virtudes.
Mas o que me estranhou sempre foi o curioso hábito dos adversários políticos, maioritariamente de esquerda, de a tratar por "a senhora Merkel". A senhora... Sem entrar em piadas bacocas sobre a eventual falta de beleza física da chancelera, pouca relevante para a função que cumpre, nunca entendi essa mania de referir, invariavelmente, o facto da chancelera ser uma "senhora".
Não me lembro de ter ouvido falar em "o senhor Cameron", "o senhor Hollande", "o senhor Rutte" ou "o senhor Passos Coelho". Então porquê "a senhora Merkel"? Muito mais, porque a forma como normalmente é exprimida o adjetivo "senhora" (basta ouvir a eurodeputada Ana Gomes da PS a bradar contra "a senhora") transpira desprezo e rejeição, que, embora entenda-se como uma rejeição da política da chancelera, rapidamente contamina o adjetivo. Aparentemente, é factor agravante que a política alemã (europeia?), supostamente nefasta para o povo Português, seja representada por uma mulher em vez de um homem, e que motiva os seus adversários políticos a referir a torto e direito o género da chancelera.
Ser obrigado a abandonar a festa despesista que reinou durante 2 décadas em Portugal é doloroso, mas aparentemente o facto de o abandono ser imposto por uma mulher fera ainda mais o orgulho latino, mesmo o orgulho esquerdista. Pois é, a emancipação é um estado mental difícil de adquirir...
Chancelera Merkel, seja bem-vinda a Portugal, país acolhedor e tolerante, apesar da surda gritaria de uma minoria.
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19 comentários:
O vídeo «Eu sou berlinense» do professor Martelo é piroso demais para mostrar que os portugueses trabalham mais horas, pagam mais impostos, são mais explorados que os alemães, e mais obedientes, conformistas e subservientes, onde até não falta a imagem de uma jovem portuguesa a abraçar um Robocop!!!
O nosso maior problema é a mediocridade e o provincianismo das nossas elites que se ajoelham face ao invasor e tentam manipular o zé povinho que essa é a única alternativa para resolver os problemas que elas criaram quando foram jogar para o casino.
O nosso grande problema é a palavra anteceder o pensamento, pois fora o contrário e o domínio da racionalidade impediria, ou limitaria disparates e aburdos para os quais os ditos soundbytes são uma excelente ajuda.
Agora mesmo ouvi uma senhora insultar referindo serem "insultos as declarações da Merkel sobre a nossa dívida". Insulto passou a ser opinião (eu bem sei o que essa queria fazer com a autora do que ela referiu ser insulto, gulag com Merkel!).
Pensar perceber a realidade, ouvir diferentes ideias para formar oponião, escolher e defender as nossas escolhas com razões, nada disso parece fazer hoje sentido,trucidados pela voragem dos média e os tais bytes.
Cada vez abundam mais acefalos pelo ciberespaço e ideias sem cerebro também.
Esta festa para a Merkel, culpada de quê? De ter uma ideia e a defender?
Eu que discordo radicalmente da ideia dela, das ideias dela, que acho que conduzem a Europa a um novo beco sem saída, procura lutar contra essas nos tempos e modos adequados.
Mas vá lá mais um saco de folhas queimadas para cima desses capachos da Merkel (poluindo o ar e aumentando o CO2).
Pensar, pensar é uma actividade muito díficil...
António Eloy
Vamos aguardar, assistir ou resistir? Vamos perpetuar a luta ideológica, que interessa ao Grupo Inter-Alfa?
Em 11 de Novembro de 1918, foi assinado o Armistício da Primeira Grande Guerra Mundial (data de publicação da sua postagem, Heink Feith....estranha e no mínimo bizarra coincidência) e Portugal com governo subserviente e parolo entrega tudo ao desbarato e em nome do PEC, pacto horrendo em que perdoamos nós próprios a dívida soberana da Alemanha.Gostava de saber a opinião de Heink Feith em relação ao que a direita e CDS, na figura da senhora/estadista/mega-ministra Assunção Cristas, destruiu a REN, por exemplo. Mas assim, sem contestação, muito oportunismo, muito policiamento para afastar os manifestantes e um senhor presidente da direita que fala ao povo, muito depois do OE através do facebook, como acordado de um coma, mas publicamente não expressa confiança, vontade em levantar a moral...Acho que merecíamos melhor destino, isto é, já falando em termos europeus...pois estamos a fazer poucos esforços colectivos para evitar a III Guerra Mundial.
* Henk Feith, queria dizer.
Já agora deixo-vos para leitura a crónica de Domingos Amaral (D.A.)
"Querida Angela Merkel"
http://domingosamaral.com/51346.html
"Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias"~ Augusto Cury
Transcrevo esta parte do texto de D.A.
"Contigo ao leme, querida Angela, a Europa aproxima-se de um perigoso precipício. Os próximos meses serão terríveis, e talvez em 2013 todos percebam finalmente que foste tu a principal responsável por ter colocado a Europa na boca deste inferno. Nessa altura, todos os que me criticam irão infelizmente ser forçados a reconhecer que foram avisados."
A ler:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/search?q=N%C3%A3o+aprenderam+nada+com+a+hist%C3%B3ria
Como há chicos-espertos que se fazem passar por entendidos em ecologia e economia, quando na verdade não passam de vira-casacas, cheios de verborreia e pedantismo, deixo aqui uma simples informação do oficialíssimo Diário de Notícias:
Merkel ganha 1,9 milhões por dia com Portugal
http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2882830&especial=Revistas%20de%20Imprensa&seccao=TV%20e%20MEDIA
Camarada anónimo,
Uma notícia que confunde excedente comercial com lucro é uma notícia seguramente ignorante.
Um comentador que pretende demonstrar o que quer que seja sobre economia e ecologia a partir de tamanha ignorância é também um ignorante.
henrique pereira dos santos
Meu Irmão Henrique,
A Alemanha liderada por Angela Merkel faz uma verdadeira fortuna com um país em crise, e o resto são tretas para épater le portugais.
Entre outras confusões, o Irmão Henrique deve confundir imprensa com universidade, e governo com verdade.
Fique em paz com a sua Senhora M.
Der Spiegel (Alemanha): Europe's Crisis Is Germany's Blessing
Estadão (Brasil): Alemanha lucra com sofrimento dos vizinhos
Lindo, lindo, lindo.
Fico só com uma dúvida: será que alguém leu o post propriamente dito ou bastou a foto da Merkel para abrir as comportas verbais?
Pois eu li, e acho os seus comentários finais insultuosos para aas pessoas do país que o recebeu!
José M. Sousa,
A intolerância acaba sempre no tipo de manifestações patentes no seu comentário: ó estrangeiro, deixa de mandar bocas sobre o meu país.
Felizmente, como diz o Henk (e bem) não passa da gritaria de uma surda minoria.
henrique pereira dos santos
Meu Irmão Henrique,
Quem não se sente não é filho de boa gente - é o que diz a sabedoria popular, que é quem diz do Senhor.
O Irmão Henrique devia aprender mais com o Senhor, e menos com a senhora Merkel.
Que o Senhor ilumine a sua consciência.
Só a gora li o teu post, Henk. Comento para te agradecer a coragem.
Nos meados da década de 1990 percebi o que estava para vir. Lembro-me de uma pequena notícia de jornal lá para 1995 a contar qualquer coisa do género: num ano o deficit da balança comercial portuguesa agravou-se 10% (ou 15%, não recordo). Critiquei abertamente, faz muito tempo já, na minha cidade (e na AMBIO) as "transferências para as regiões de desfavorecidas" (são um disparate económico), a forma como se usou e abusou dos dinheiros públicos no interior profundo, a política de subsídios agrícolas e a "obra pública". Tenho a consciência tranquila, que não me dá de comer.
A verdade é que durante 30 anos selecionamos, sem exceção, os dirigentes partidários, os autarcas e os governos que mais prometiam gastar “em obra” e proteger os agentes económicos do mercado (para estas bandas não se ganham eleições com apelos à temperança, à prudência e ao liberalismo económico). A Europa fechou os olhos e durante muito tempo bateu palmas. Chegou a conta para pagar.
Não esqueçamos, porém, que a Alemanha (e não só) tem esse "problemazinho" de produzir muito, gastar pouco e acumular oceanos poupança. O sul da Europa, na altura pobríssimo (e infantil), foi o destino, dessa massa imensa de dinheiro, até as economias da China, do Brasil, e outros, emergirem. Venderam-nos dinheiro com os mesmos truques e intensões de uma empresa de crédito ao consumo. Há, por isso, uma culpa centro-norte-europeia do atoleiro em que se meteram os países do sul, e, nem que seja por aí, um dever de solidariedade. Esta triste história só mostra que faltou sempre gente à altura, cá e lá; mas nem a Chanceler Merkel nem o Ministro Gaspar têm culpas no cartório. E a diabolização destas duas personagens públicas é tola, para não usar um sinónimo mais apropriado.
Caro Henk Feith,
Esperava mesmo que o tom paternalista e condescendente do seu post resultasse algum diálogo sério?
O seu post é extraordinariamente político, com opiniões infiltradas à paisana, fazendo-as passar por certezas.
A falta de honestidade intelectual do mesmo é gritante.
E depois ainda intervém com "Lindo, lindo, lindo."
Quando o seu objectivo for dialogar, e não 'pavonear' a sua auto-confiança no seu juízo, comece por escrever com humildade.
Porque este seu texto é demasiado medíocre.
Cumprimentos,
Pedro Lérias
Relativamente ao tema do post, e em particular à questão da "senhora Merkel":
A razão de ser deste tratamento está na forma parola como em Portugal se usam os títulos académicos.
Contrariamente ao que referes, Henk, é frequente ouvir-se dizer "o senhor Hollande"; o "senhor Rutte", confesso, nunca ouvi (mas já ouvi "senhor Aznar", "senhor Blair", "senhor Rajoy" e "senhor Sarkozy"; quanto a "senhor Passos Coelho" é impensável. E porquê? Porque neste país não é socialmente aceitável tratar personalidades portuguesas por "senhor" ou "senhora". Em Portugal quem é licenciado é automaticamente distinguido com "doutor" ou "doutora". Se for estrangeiro, não tem direito a título algum, essa prerrogativa parece ser exclusiva das personalidades nacionais.
Por vezes esta bizarria torna-se particularmente evidente, quando o contraste de tratamento aparece em simultâneo, numa só frase - ainda há dias ouvi um conhecido político português na SIC Notícias, dizer isto "A senhora Merkel e o senhor Trichet já tinham dito ao doutor Passos Coelho..."
Angela Merkel é doutorada, Passos Coelho não. Mas é a este último que é concedido o título de doutor. A Merkel leva com o "senhora" e já é uma sorte...
Caro Gonçalo,
Agradeço o teu comentário: finalmente um que vai à cerne da questão do post, que rodava à volta da utilização da palavra "senhora", aparentemente incompreendida pro muitos.
No entanto, não concordo com o que afirmas: tenho estado intrigado com a questão do "título" da Merkel já há bastante tempo e, no meu ver, é notória a diferença de trato entre a Merkel e os seus colegas chefes de governo europeus. Não posso desmentir que tenhas ouvido a utilização do título "senhor" para colegas masculinos da Merkel, mas mantenho a minha opinião que há uma diferença notável.
E não acho que tenha a ver com o uso dos títulos académicos, de facto ridículo em Portugal (se assim fosse, ela seria tratada por doutora, o que ela é), mas sim como uma forma reforçar o desprezo pela pessoa. É por isso que essa prática de a chamar Senhora Merkel é tão prominente na esquerda opositora da sua política. E parece que há aqui um sentimento primário sexista por detrás, que difícilmente seria reconhecido como tal pela esquerda contestatória das políticas de contenção orçamental.
Um grande abraço,
Henk
Só uns comentários:
-Alguns países usam o trato (respeitoso) senhor/senhora para qualquer pessoa; da empregada doméstica à rainha de Inglaterra.
-Em 2010, Merkel efectuou o último reembolso dos empréstimos feitos pela Alemanha para pagar as indemnizações da I Guerra Mundial. É talvez este planeamento que falte por cá.
Portugal reembolsou em 2001 um empréstimo de 1902 na sequência da bancarrota de 1892.Não é por aí!
E na década de 1950 a Alemanha viu perdoada boa parte das suas dívidas da IIGG O autor do texto é historiador e é alemão.
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