quinta-feira, abril 17, 2008

A santa aliança

Vários factos encadeados nestes dias me trouxeram a este post.
Tenho defendido a aliança estratégica essencial entre agricultura (incluindo produção florestal, pastorícia e etc.) e conservação da biodiversidade.
Esta aliança conduz à defesa da afectação de dinheiros públicos à remuneração da biodiversidade produzida pelos sistemas agrícolas e que o mercado não consegue remunerar, baseando assim numa lógica de produção, que implica regulamentação, subsidiação e etc..
Continuo a pensar que é uma aliança estratégica que precisa de ser reforçada, mesmo reconhecendo os riscos principais para a sua sustentabilidade como sejam a oposição dos contribuintes e o desvio dos recursos públicos para outros objectivos que não a remuneração dos serviços prestados e a resolução das falhas de mercado, como acontece em Portugal.
Sinto crescer a convicção de que a verdadeira santa aliança é entre a alimentação e a biodiversidade, o que implica uma lógica de marketing, baseada no conhecimento e na informação.
Há riscos, claro, como a colonização da aliança pela lógica vegan, sucedâneos e próximos, a dificuldade de traceabilidade dos alimentos, não só pelo modo de produção mas também pela distância e por aí fora. Lembro-me, por exemplo, de num supermercado ter de optar entre um tomate biológico vindo da Holanda e um tomate de produção indiferenciada de Portugal e ficar sem saber quem tem maior incorporação de produção de biodiversidade.
Mas há também oportunidades, sobretudo porque a aliança se faz pelos sectores mais dinâmicos da sociedade e por via das decisões voluntárias dos consumidores.
Fazer estudos de ciclo de produção para a alimentação parece-me um caminho de oportunidades para separar o trigo do joio e permitir consolidar a santa alinaça entre a alimentação e a biodiversidade.
henrique pereira dos santos

6 comentários:

Anónimo disse...

Em Inglaterra, salvo erro, os agricultores têm a boa ideia de deixar faixas não agricultadas nos limites dos terrenos/culturas.
E fazem-no creio que por motu próprio, ou seja tiram uma vantagem não económica no prazer de ver "vida selvagem" a pulular, mesmo que parte das colheitas seja sacrificada. E haverá certamente outras actividades que poderão ser potenciadas - caça, turismo, além de eventuais corta-fogos, protecção contra a expansão de pragas, etc.
Subsídios parece-me má ideia, mas marketing, não subsidiado, dirigido ao usufruto da biodiversidade seria a ideia a seguir.
Claro, isto se os portugueses deixarem de deitar sacos de plástico e garrafas por tudo quanto é sítio e deixarem de favorecer destinos como uma pessoa/m2 de areal.

Miguel B. Araujo disse...

Como não podia deixar de ser concordo na necessidade de tal aliança. Mas também é bom estar consciente que a realidade é diversa e que a agricultura, mais do que uma solução, pode converter-se num problema. Sobre este tema chamo à atenção de um artigo que saiu hoje na revista Science e do qual copio o primeiro parágrafo:

Science 18 April 2008:
Vol. 320. no. 5874, pp. 320 - 321
DOI: 10.1126/science.1158390
http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/320/5874/320

Policy Forum
ECOLOGY:
Agriculture at a Crossroads

E. Toby Kiers,1* Roger R. B. Leakey,2 Anne-Marie Izac,3 Jack A. Heinemann,4 Erika Rosenthal,5 Dev Nathan,6 Janice Jiggins7

Recent scientific assessments (1-4) have alerted the world to the increasing size of agriculture's footprint, including its contribution to climate change and degradation of natural resources (5). By some analyses, agriculture is the single largest threat to biodiversity (6). Agriculture requires more land, water, and human labor than any other industry (7). An estimated 75% of the world's poor and hungry live in rural areas and depend directly or indirectly on agriculture for their livelihoods (8). As grain commodity prices rise and per capita grain production stagnates (9), policy-makers are torn between allocating land to food or fuel needs. The governance of agriculture requires new thinking if it is to meet the needs of humanity now and in the future. The International Assessment of Agricultural Science and Technology for Development (IAASTD) brought together governments, international organizations, and private sector and civil society organizations to address these challenges (10). The task was to assess the current state and future potential of formal and informal knowledge, as well as science and technology (S&T), (i) to reduce hunger and poverty, (ii) to improve rural livelihoods, and (iii) to facilitate equitable, sustainable development.

(...)

Isis Nóbile Diniz disse...

Seria uma idéia...

Anónimo disse...

link interessante.

Anónimo disse...

Relacionado com o anterior:

#1 e #2

Existe algo semelhante ao #2 para a Europa?

Anónimo disse...

vi que há mas é pouco e deixa de lado quase tudo.

Até parece mais um preocupação com o seu próprio mercado em recessão do que uma verdadeira preocupação ambiental.