quarta-feira, agosto 04, 2010

"Não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia, pá"

É de Pinheiro de Azevedo o título deste post, que adaptado seria como eu dizer, não gosto que me chamem demagogo, é uma coisa que me chateia.
Lowlander nos comentários a este post diz isso porque respondi a um anónimo qualquer que as praias do Golfo do México estão bem e recomendam-se, em 99% dos casos.
Vejamos um desenho de escola primária feito por mim mas cujos detalhes podem ser vistos aqui.

Se aumentarem verão um risco encarnado lá para o Norte do Golfo do México que mais ou menos define a área afectada pelo derrame na costa do Golfo. Desse risco mais de 90% é uma afectação leve e desenhei umas bolas verdes (muito exageradas) que identificam as áreas mais afectadas (sobretudo as ilhas, um ponto ou outro na linha de costa).

Acho que é justo perguntar: afinal quem é demagogo? Os que passam o tempo a dizer que as praias todas do golfo estão afectadas ou eu?

Adenda: quem quiser de facto ter informação tem aqui muito com que se entreter.



henrique pereira dos santos

13 comentários:

Lowlander disse...

Voce Henrique, voce.
Porque gosta muito de inventar espantalhos para depois poder contra-argumentar.
Faca os mapas que quiser, olhe, porque e que se fica pelo Golfo e nao inclui todo o Oceano Atlantico (ou mesmo o Indico e Pacifico...) para depois exclamar triunfalmente que nao foram afectados?

Henrique Pereira dos Santos disse...

Há um equívoco da sua parte. Eu desenhei lá (e nos links dei toda a informação) as afectações.
Estava apenas a responder a um idiota qualquer que me mandou ir dar um mergulho no Golfo do México sugerindo com isso que as praias do golfo estão todas estoiradas. Esse exagero pelos vistos a si não lhe faz confusão.
A mim faz. Por isso (e porque sei a ignorância que temos da geografia dos Estados Unidos, até porque só fiquei a saber que o Texas era um estado costeiro quando uma das minhas filhas foi para lá estudar, até aí sempre pensei que o Texas era no interior) corrigi o exagero.
Em lado nenhum encontra uma afirmação minha a dizer que esses 1% de afectação da costa não são importantes.
São, com certeza, mas são o que são, não são os outros 99%.
Já agora, no link da adenda pode ver a área de interdição da pesca que é brutal. Assim se percebe mais facilmente por que razão o balanço global pode ser mais positivo que negativo para os valores naturais (não evidentemente para o sector da pesca)
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

Este derrame não pode ser encarado isoladamente; é mais um desastre numa zona já de si com problemas que cheguem:

«The Gulf of Mexico dead zone is one of the largest in the world»

Além disso, não me parece que a referência correcta a ter em conta seja toda a área do Golfo do México, mas sim a zona costeira que, julgo, será onde existe maior concentração de vida.

Henrique Pereira dos Santos disse...

José,
É mesmo olhando para a linha de costa afectada que é uma patetice dizer que as praias do golfe estão todas (ou em grande parte) afectadas.
Quanto à dead zone nem percebi o que tem ela com isto. Agradeço a referência, com bastante informação interessante, mas não tira nem põe para a discussão.
Volto a esclarecer: eu não estou a negar a importância do derrame e dos seus efeitos, estou simplesmente a dar-lhe a dimensão que tem. Nem maior, nem menor.
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

Gulf Oil Spill Could Widen, Worsen 'Dead Zone'

"The nation's worst oil spill could worsen and expand the oxygen-starved region of the Gulf labeled "the dead zone" for its inhospitability to marine life"

Henrique Pereira dos Santos disse...

José,
Mais uma referência ao que pode vir a acontecer (mas não ao que se verifica que de facto aconteceu).
Os ambientalistas adoram quase notícias.
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

O que isto significa é que perante o desconhecido, em que os riscos podem ser acrescidos, o cuidado deveria ser maior do que o que a BP revelou. Se os ambientalistas são investigadores credenciados, não me parece que possamos descartar facilmente estes alertas.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Não se trata de descartar alertas, trata-se de não confundir alertas com factos.
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Parece-me que de facto já engoliu uns pirolitos, e que isso lhe está a afectar a capacidade argumentativa.

O idiota não sugeriu que as praias do Golfo do México estão todas emporcalhadas. O EV também não sujou o Alasca todo, e não me consta que na esmagadora maioria das vezes em que se fala disso, as pessoas tenham o cuidado de precisar que parte da costa do Alasca é que ficou suja! Você é que declarou que o derrame é uma coisa menos grave, porque é menor do que algumas pessoas sugeriram! O texto é seu! Essa técnica de desinformação é velha: exagerar, depois da porcaria acontecer, para depois dizer que afinal a coisa não é tão má como parecia... Aliás, para além da BP e eventualmente das outras duas empresas envolvidas neste desastre, ninguém sabe a verdadeira dimensão do derrame. E nem vão saber: porque o valor das indemnizações é função desse número!

Por último uma nota sobre boa educação. Não somos obrigados a concordar um com o outro, e não temos de ser simpáticos um com o outro, especialmente quando discordamos. Mas é suposto sermos educados. O termo «idiota» é completamente despropositado. É que ainda por cima, o seu curriculum académico em matérias da física, relevantes para a análise dos efeitos do derrame, não vale nada ao pé do meu.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Tenho todo o gosto em falar de boa educação consigo desde o momento em que reconheça que para manifestar a sua discordância com o que eu digo não precisa de insinuar que o que digo resulta do dinheiro que a BP paga seja a quem for. E reconhecendo isso peça desculpa pelo seu excesso.
Até esse momento sinto-me perfeitamente à vontade para achar que uma pessoa anónima que não usa um único argumento de substância para contestar o que digo mas ao mesmo tempo contrapõe o seu anónimo curriculum em física à minhamais que assumida falta de curriculum em física (mesmo que eu não perceba o que tem um curriculum em física de relevante para avaliar efeitos em sistemas biológicos) para dizer que tem razão é verdadeiramente um idiota.
Mas como a questão não é discutir as idiossincrasias de cada um, deixemos isso de lado e vamos à discussão de substância: este derrame tem vai ter que efeitos nos sistemas biológicos afectados, em que prazos e, cerca de três meses depois, detectados onde e com que métodos?
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Como produtos duma cultura judaica-cristã ignoremos então o resto, e vamos colocar o início na pergunta com que terminou.

A minha resposta: é não sei.

Só conheço alguns factos incontornáveis:
1. não é preciso esperar 3 meses para determinar que aves, peixes, répteis e mamíferos, já morreram e foram afectados - nos organismos de menor dimensão ninguém tem ideia do impacte do derrame, idem para as algas,
2. não preciso esperar 3 meses para avançar com estimativas da mortandade e o impacto que ela causou nalgumas colónias,
3. não é preciso esperar 3 meses para fixar um minorante para a área afectada,
4. não sabemos como a pluma de crude se dispersou e irá dispersar - não há estudos nessa matéria, derrames desta dimensão só à superfície ,
5. a adensar a incerteza ao ponto anterior, desconhece-se o caudal do derrame,
6, não sabemos as consequências das medidas de contenção do crude, e o impacte que esses produtos, e as misturas que originaram, vão ter,
7. com equipas de investigação no terreno não será preciso esperar 3 meses para se perceber que sistemas biológicos foram afectados, mas tenho muitas dúvidas que mesmo daqui a alguns anos alguém esteja em posição de lhe explicar quanto foram afectados.
8. a monitorização que tem sido feita da área afectada no Alasca pelo EV, dará pistas sobre o que se pode esperar nos próximos anos, e acima de tudo orientação para os primeiros estudos a realizar,

Restam-me – e julgo que por uma vez (!) estaremos de acordo – dois fracos consolos:
A - nas terras do Tio Sam é habitual fazer-se boa investigação,
B - as autoridades, os grupos ambientalistas, as vítimas do derrame e, acima de tudo, os advogados, vão estar atentos, e teremos notícias!

Como todos aprenderam com a batalha judicial do EV, antecipo que a vida será muito, mas mesmo muito, difícil para a BP, que à cautela já tem activos de mais de 11,6E9 USD à venda.

Por último repare que tive o cuidado de não lhe perguntar como é que distingue quantitativamente um grande acidente ambiental dum – digamos – menos grande acidente ambiental.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro anónimo,
Tiro-lhe o chapéu porque é raro em Portugal partir de onde se partiu e chegar aqui.
Posto isto, repare que aparentemente tudo se reduz, como suspeitava, a uma leitura enviesada do que eu escrevi.
Quem escreveu durante várias semanas sobre o derrame não fui. Pelo contrário, quando em comentários a posts sobre outros assuntos se colocou a questão de saber por que razão neste blog não se falava do assunto assumi eu (aqui cada um pensa pela ssua cabeça) que era porque havia bastante ignorância e pouco de útil a acrescentar por quem sabe pouco sobre o assunto.
A cois foi seguindo e começaram a radicalizar-se as opiniões chamando isto e aquilo à BP.
E fiz uma pergunta muito simples que, até hoje, ninguém respondeu: depois de derrame (não discuto o antes porque evidentemente me falta informação e conhecimento) o que é que a BP fez de errado na gestão do problema. Ou psoto de outra maneira: tirando as questões de comunicação, o que poderia estar a BP a fazer melhor.
É daqui que depois parte do resto da discussão com cenários apolcalípticos sobre o que iria acontecer.
O que se sabe ds outros derrames é que aparentemente os dispersantes são mais prejudiciais que o crude propriamente dito. E que as substâncias do crude mais perigosas são muito voláteis e permanecem no crude muito pouco tempo.
Que morrem bichos ninguém tem dúvidas, que sejam afgectadas espécies é outra discussão (é uma velha questão em conservação, a confusão entre mortalidade de indivíduos e afectação de espécies.
Mesmo assim os números conhecidos são ridiculamente baixos.
Agora considerar este derrame um desastre ambiental maior que o do DDT, o da erosão macissa de algumas áreas do Oeste quando se passou das matas e pradarias para a agricultura, ou a extinção dos bisontes (ou se preferirmos, a profunda transformação das grandes pradarias do Oeste), a mim parece-me temerário, mesmo sem discutir muito o que é um grande e um pequeno desastre ambiental.
henrique pereira dos santos

José M. Sousa disse...

O que é que a BP fez de errado depois do derrame?
Talvez aqui encontre alguma coisa.