sábado, novembro 20, 2010

Da mentira como técnica de condicionamento de um Estado fraco

Imagem retirada daqui
A discussão gerada pelos meus posts desmontando a suposta oposição das populações residentes às áreas protegidas obedece aos padrões do costume.
Um dos padrões mais consistentes é o do recurso sistemático a mentiras repetidas vezes sem conta.
Para não cansar muito os leitores vou apenas referir uma: a suposta proibição de produção de energia eléctrica de origem fotovoltaica e de biomassa.
Essa mentira vem muitas vezes embrulhada na pergunta "mas qual é o problema de instalar um painelzinho no telhado da minha casa".
Vejamos em concreto o que diz a proposta de plano em discussão.
"Artigo 7.º Actividades interditas ... "d) A instalação de novas infra-estruturas ou equipamentos de produção de energia eléctrica utilizando recursos hídricos ou eólicos, excepto em sistema de microgeração;"
Onde está a proibição da fotovoltaica? Onde está a proibição da biomassa? Onde está a demonstração da afirmação, falsa, de que apenas pode ser instalada micro-geração?
Em lado nenhum.
O que está proibido é a eólica e as mini-hídricas, e mesmo essas com excepção da microgeração ("l) Microgeração – actividade de produção de energia eléctrica em baixa tensão destinada predominantemente a consumo próprio, através de equipamentos autónomos de produção como motores, microturbinas ou pilhas de combustível, que utilizem geradores síncronos ou assíncronos, painéis solares fotovoltaicos e outros equipamentos autónomos de produção de energia eléctrica, cuja potência a entregar à rede pública não exceda os 150 kW;").
Não se pense que se trata de uma mentireta de quem leu mal.
É uma das dezenas de mentiras sobre este plano que gente bem intencionada repete por não ir consultar os documentos, como sejam as proibições ou taxações de apanha de lenha, a proibição de pastoreio e dezenas de outras que têm sido usadas.
A mentira é uma estratégia usada de forma consciente por esta gente cujo objectivo central é condicionar os agentes do Estado nas suas obrigações de controlo da legalidade.
É gente que tem interesse pessoal nas eólicas, nas mini-hídricas e na gestão destemperada dos baldios (ler os posts de Carlos Aguiar sobre a nebulosa das gestão dos baldios aqui, aqui e aqui). Esta gente não defende os interesses dos povos das áreas protegidas, esta gente defende o seu rendimento privado retirado de bens colectivos.
E a mentira e outros argumentos ad terrorem (ou seja, argumentos de apelo ao medo) visam apenas condicionar a actuação do Estado e dos seus agentes.
Devo dizer, com imenso êxito.
Esta gente tem conseguido manter reféns da sua estratégia os agentes do Estado com maior responsabilidade, de que é exemplo o Director do Departamento do Norte que acaba por falar em regras sufocantes para as populações, colocando-se demagogicamente no lado dos que usam a crítica injusta (porque há muita crítica justa a fazer à gestão das áreas protegidas) para minar a autoridade do Estado na reposição e controlo da legalidade.
Esta gente tem conseguido arrebanhar para o campo de discussão que definiu um monte de outra gente bem intencionada, um monte de jornalistas e calar as ONGAs que têm medo de dizer, com toda a clareza e legitimidade, que o rei vai nu, que esta gente não representa ninguém e que os seus argumentos são falsos, na grande maioria das vezes.
Como quiz deixar claro agora com este post.
Se alguém tiver dúvidas posso fazer uma série de posts a desmontar um por um os argumentos usados por esta gente, que não está preocupado com a gente do Gerês, mas sim com o Gerês para a gente.
henrique pereira dos santos

3 comentários:

Rui C. Barbosa disse...

Caro HPS,

Humm, só não acho cordial utilizar uma fotografia de uma manifestação que protestava principalmente contra uma portaria que me exigia que pagasse €200,00 para pedir uma autorização para fazer uma caminhada numa área protegida.

Cumprimentos,

Henrique Pereira dos Santos disse...

Rui,
A imagem é uma das várias manifestações sobre o PNPG e que tinham como fundo uma suposta conflitualidade entre o PNPG e as populações.
Percebo que sendo um dos organizadores desta manifestação (ou o organizador) não goste de a ver associada ao título.
Mas sobre essa taxa como sabe também circulou abundante desinformação (independentemente da falta de sensatez de algumas das suas disposições) que foi usada para mobilizar as pessoas.
Podemos discutir o desfasamento entre o que foi dito e a realidade, se quiser.
henrique pereira dos santos

Rui C. Barbosa disse...

Caro HPS,

Sem dúvida que gostava de ler a sua opinião sobre a Portaria 1245/2009, pois assumo que saiba a minha opinião sobre a mesma.

Cumprimentos,