segunda-feira, setembro 07, 2009

Um país sem ética de responsabilidade


A história está reproduzida no fim do mail e toca o único dos temas ambientais que é considerado pelos partidos como relevante: a produção de energia a partir de fontes renováveis. Como bem nota Henk Feith num comentário a este post, a conservação da natureza só é referida nos programas dos partidos por ser politicamente correcto, e não por ser uma verdadeira preocupação política.
Mesmo a questão da energia (em termos gerais) e da que é produzida qa partir de fontes renováveis é tratada menos num quadro de discussão de políticas e mais como uma liturgia revelada, como procurei explicar neste post. (um comentário para referir o blog Rua Direita, de apoio ao CDS, onde a questão das energias tem sido discutida com bastante mais seriedade, mesmo que numa perspectiva que não é a minha)
Mas o que pretendo pôr em realce na história inacreditável de procurar envolver Carlos Pimenta no apoio às políticas do PS em matérias de renováveis, sem que o próprio tenha sido tido e achado na história (e honra lhe seja pela forma elegante com que esclareceu de imediato o assunto, tanto mais que do ponto de vista dos seus interesses empresariais de produtor de energia eólica talvez lhe fosse mais útil ser menos claro e directo), é o penúltimo parágrafo da notícia da TSF que me interessa, pelo que traduz de uma cultura profundamente enraízada em Portugal:
"Entretanto, o PS já pediu desculpa a Carlos Pimenta e explicou este incidente, garantindo que o erro é da exclusiva responsabilidade da empresa que produziu os vídeos.".
Como? Importam-se de repetir?
Será que ninguém sabe no maior partido de Portugal que tarefas se delegam mas responsabilidades não?
Será que ninguém sabe no maior partido de Portugal que quando se perde uma guerra a responsabilidade é sempre dos generais e nunca dos soldados?
E será que ninguém nos jornais, na sociedade estranha e acha escandalosa esta forma de desresponsabilização?
E será que ninguém repara como este tipo de fuga a responsabilidades é muito mais frequente e generalizado do que parece, não sendo infelizmente exclusivo do partido que desta vez a resolveu explicitar?
E será que ninguém repara como todos nós encolhemos os ombros porque achamos que é um mero pecadilho de campanha eleitoral, minimizado pelos apoiantes, empolado pelos opositores e não uma preocupante ausência de ética de responsabilidade inadmissível em quem quer ter responsabilidades sociais relevantes, como é o caso dos partidos que aspiram a ser governo?
Dir-me-ão que esta não é uma matéria ambiental que devesse ser tratada neste blog.
Direi que não estou de acordo: em matéria de políticas ambientais (como nas outras, é certo, mas nesta muito mais que em muitas outras) a ética da responsabilidade perante os que não se podem defender (as gerações futuras, a biodiversidade, e por aí fora) é uma questão central.
Mais que a tentiva manhosa de forçar apoios que não existem (esse sim, um estúpido pecadilho de campanha) o que é grave em toda a história é mesmo esta característica cultural que nos persegue: não fui eu, foi aquele menino que fez tudo ao contrário do que eu lhe disse.
Experimentem criticar uma direcção de uma ONG, por exemplo, e logo verão como a ética de responsabilidade é a mesma: são os sócios que não são activos, é a sociedade que é culturalmente pouco aberta a reconhecer o maravilhoso trabalho das ONGs, é o Estado que não apoia como devia o trabalho de tantos generosos voluntários, enfim, o rosário não terminaria.
E a conclusão é sempre a mesma: minha é que a responsabilidade não é.
henrique pereira dos santos
"
O aparecimento do ex-eurodeputado e dirigente social-democrata num dos filmes "Sócrates 2009" foi um dos momentos de surpresa na convenção.
Na sua breve comunicação, Carlos Pimenta destacou as potencialidades de desenvolvimento das energias eólica e solar em Portugal.
Nesse contexto, o ex-eurodeputado do PSD defendeu que os próximos governos devem prosseguir com a aposta nas energias renováveis.
À TSF, Carlos Pimenta afirmou não ter conhecimento deste filme e, por isso, acredita que as imagens foram passadas num «contexto de retrospectiva de coisas que aconteceram durante quatro anos e passaram nos orgãos de comunicação social».
Se assim não for, o social-democrata considera «grave», que «uma pessoa seja retirada de um contexto público e dirigida ao país, para subscrever opções partidárias às quais a pessoa não pertence».
Quanto a possíveis medidas de reprovação ao PS, Carlos Pimenta não tenciona tomar qualquer atitude.
«Sempre tive na minha vida uma atitude ética, despartidarizada aos assuntos do país no que diz respeito à defesa do valor do ambiente e das energias renováveis. E nunca exitei (sic, na notícia, mas este não é um blog sobre rudimentos de língua portuguesa) em dizê-lo, independentemente das pessoas e instituições, e se uma delas utiliza indevidamente estas minhas declarações como tentativa de dizer que subscrevo determinadas candidaturas, é triste», justificou.
«Mas não tenciono fazer mais nada, não é um caso judicial, mas ético», concluiu.
Entretanto, o PS já pediu desculpa a Carlos Pimenta e explicou este incidente, garantindo que o erro é da exclusiva responsabilidade da empresa que produziu os vídeos.
De acordo com a versão do Partido Socialista, a empresa terá usado, por engano, imagens antigas de arquivo."

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