sexta-feira, outubro 08, 2010

Imbecilidade animalista

Há uns anos denunciei aqui um acto imbecil dos animalistas que libertaram 15.000 visões americanos no norte de Espanha. Semelhante imbecilidade regista-se agora na Irlanda com mais 5000 individuos desta espécie exótica libertados na natureza. Haverá acto mais idiota que os animalistas possam fazer para causar mais dano na biodiversidade?

Nas palavras de Monbiot:
"Had these people tipped a tanker load of bleach into the headwaters of the River Finn, they would have done less damage. The effects would be horrible for a while, but the ecosystem could then begin to recover. The mink, by contrast, will remain at large for years, perhaps millennia. Like many introduced species, American mink can slash their way through the ecosystem, as they have no native predators, and their prey species haven’t evolved to avoid them. Is there anything the animal lovers in Donegal could have done which would have harmed more animals?"

22 comentários:

Luís Lavoura disse...

Hmmm... o que é que os visões americanos estavam a fazer em Espanha e na Inglaterra em primeiro lugar? Quem os trouxe para lá?

Quero eu dizer, os animalistas são culpados por terem libertado os animais, certamente, mas alguém mais é culpado também - quem trouxe os animais para a Europa e os pôs a jeito para serem libertados.

Gonçalo Rosa disse...

Luís,

Certamente que quem importou os visões requereu os licenciamentos necessários tendo, por isso, o aval das autoridades estatais.

Ninguém pode garantir que não possam ocorrer fugas, ainda que se possam tomar medidas que baixem as probabilidades dessas fugas ocorrerem. Mas uma coisa são fugas, com maior ou menor grau de negligência, outra são fugas provocadas por um bando de fundamentalistas. E meter no mesmo saco entidades que agem de acordo com as regras de um estado e fundamentalistas que acham que os seus princípios éticos devem ser impostos aos outros, independentemente dos meios a que se recorre é, no mínimo, de uma enorme ligeireza.

As sociedades democráticas (a democracia é, para esta gentalha, uma enorme chatice, eu sei...) funcionam com regras que nada tem haver com comportamentos como estes. A bem da conservação da natureza e das ditas sociedades, só desejo que estes indivíduos sejam devidamente punidos.

Gonçalo Rosa

aeloy disse...

Infelizmente ninguém irá assumir a responsabilidade, ou porque usavam pasamontanãs(mascaras) ou porque estavam do outro lado a falar com a imprensa.
Mas em breve irão apresentar um vídeo em que mostram os coitados destes bichanos em sofrimento e o heroísmo do seu salvamente (se calhar até protagonizado por algum agente infiltrado) contra os ferozes detentores destes queridos bichanos.
É claro que esta gente não quer saber de ecosistemas nem biodiversidade para nada, e adjura a 4 pés o Estado democrático de direito.
O mais grave é que continua a existir quem ache que são "compagnons de route" dos ambientalistas em vez de os denunciar como o que são: gente a precisar de alguma coisa...
E Luís esse teu comentário foi um pouco ao arrepio...
António Eloy
E peço desculpa por alguma menos clareza para quem não acompanha a lista da Ambio....

Nuno disse...

É um excelente artigo que faz lembrar a mesma situação que ocorreu na Grécia:

http://news.sky.com/skynews/Home/World-News/Greece-Mink-Run-Amok-After-Greek-Fur-Farm-Escape-Animal-Invasion-In-Askio/Article/200908215360318

O Monbiot tem cuidado em incluir na crítica o facto de mesmo sem intervenção de "animalistas" muitas destas criaturas escaparem.

Também importa referir que o Monbiot é também um perigoso(?) "animalista" , sendo responsável no passado por campanhas contra a criação intensiva de aves em gaiolas individuais e contra a caça à raposa.

Como acompanhamento a este artigo, um outro do mesmo autor em que procura demonstrar como a eliminação de uma espécie de texugo com o pretexto de eliminar doenças infecciosas no gado se revela um tiro no pé:

http://www.monbiot.com/archives/2010/01/18/the-war-against-nature-resumes/

Só para ficar claro que não há um único grupo com o monopólio da estupidez.

Miguel B. Araujo disse...

Caros Luís e Nuno

Creio que há aqui três questões:

1 - A libertação na natureza destes animais por grupos extremistas
2 - A legalidade da retenção em cativeiro destes animais
3 - A opinião que cada um possa ter sobre o negócio das peles de visão

1 é o tema do post e não creio que seja defensável.

2 já foi respondido pelo Gonçalo.

3 não creio que faça sentido nos dias de hoje o negócio das peles e assino de cruz a condenação ao abate de animais peludos para fazer casacos e outros artigos de luxo. mas note-se que pior que a criação dos animais para estes fins é o abate ilegal, na natureza, de animais para extracção de peles. Sem que se proíba o comércio destes artigos e materiais haverá sempre quem os procure e se não for com a criação industrial de animais será com o abate dos mesmos na natureza.

Nuno disse...

Totalmente de acordo em todos os aspectos, apenas me faz confusão que o termo "animalista" seja aplicado num âmbito bastante alargado ("imbecis animalistas") e depois especificamente ("extremistas animalistas").

Isto porque o Monbiot, crítico feroz e certeiro de "animalistas" é também um "animalista", na versão não imbecil, suponho. Isto é apenas um detalhe, obviamente.

Também é triste que os estragos monumentais causados por esta imbecil acção de "animalistas" (*versão extremista) não permitam avaliar objectivamente se a existência de criações destes animais e as fugas que ocorrem esporadicamente sem intervenções de sabotagem causariam eventualmente um impacto no ecossistema cujo custo da mitigação e das perdas a vários níveis ultrapassariam os benefícios gerados por tal indústria, como é referido no artigo.
Nunca saberemos ao certo.

aeloy disse...

Pois julgo que o que não oferece discussão é o facto destes senhores terem mais utilidade, até para os fins que defendem (e assino de cruz qualquer petição com vista a acabar com criação para adornos!) se ficassem em casa a ver bonecos animados.
Neste caso, como em tantos outros a imbecilidade e os estragos causados por estes activistas animalistas ou afins, é muito maior que qualquer outra coisa.
E é claro que isto, repercutido depois com umas mentirolas nums vídeos igualmente para imbecis, dá mais guito para alimentar (e torturar) os seus animais domésticos, que uma acção de pedagogia e procura de alteração da legislação.
Penso que sobre isto, também, há pouca discussão.
Antonio Eloy

Miguel B. Araujo disse...

Nuno,

Não me lembro se foi consigo que debati o termo animalista há uns meses. Animalismo, hoje em dia, é um termo neutro e usado pelos próprios animalistas para se definirem a eles próprios.

Quando refiro imbecilidade animalista e dou um exemplo, não estou a dizer que o animalismo é uma imbecilidade, nem que todos os animalistas são imbecis.

Pensava que isto era óbvio.

De resto a imbecilidade é uma das caracteristicas humanas mais bem distribuídas no planeta. Há os de todas as cores, sexos, credos, idades e feitios.

SOS Ria Formosa disse...

não tendo nada a ver com os visões,mas como é de espécies exóticas que fala o post deixo no ar a seguinte questão,a Ria Formosa é um Parque Natural onde é proibida a introdução de espécies exóticas.
ora o que acontece é que dois vereadores da CMolhão um dos quais filho do ex. governador civil de Faro Antono Pina,introduzem todos os anos milhões de ostras exóticas na Ria Formosa,pois são donos de um exploração de engorda de ostras que vem de França e que a espécie é a Gigas Angulata que é uma espécie exótica.
Mais grave é que fazem essa introdução de exóticas na Ria Formosa com fundos da União Europeia e do estado Português.
o IPIMAR sabe O ICNB sabe o PNRF deu autorização,e ninguém faz nada.
Entertanto o virús que afectou as ostras em França, já se está a propagar na Ria Formosa,através das ostras que vem de lá, e as Ostras que não morriam este ano sofreram uma mortalidade brutal.
será que a Ria Formosa está mesmo a saque??? onde ninguém manda e faz cumprir a lei????
visitem o blog olhão livre onde se fala dessa polémica.

Luís Lavoura disse...

Eu continuo a dizer que parte da culpa desta libertação de animais deve ser atribuída a quem pôs os animais na Europa em primeiro lugar, e aos governos que permitiram que tal fosse feito.

Pois que é evidente que, a partir do momento em que os animais são postos na Europa, alguns deles irão escapar, mais tarde ou mais cedo, seja por descuido, seja por ação deliberada (neste caso de grupos animalistas).

Não pretendo de forma nenhuma desculpar os animalistas, mas penso que é imprescindível atribuir também culpas às empresas e governos que, motivados pela ânsia de lucro, decidiram em primeiro lugar trazer os animais para a Europa.

Gonçalo Rosa disse...

Luís Lavoura,

Ao nível da conservação da natureza, uma coisa são fugas, sempre a evitar é certo, de alguns animais, e no espaçadas tempo, outra libertação de 5000 animais de uma só vez.

Ao nível dos princípios, não posso deixar de ficar indignado com as atribuições da culpa que entendes fazer. É, de facto, preocupante.

Não são os governos que tem o que apelidas de "ânsia do lucro", são as empresas. E ainda bem. As empresas têm, em primeiro lugar, que se preocupar com os seus lucros e viabilidade financeira.

Gonçalo Rosa

Henk Feith disse...

Caros,

Sendo evidente a estupidez destas ações, gostava de saber se alguém sabe com o mínimo de rigor qual o impacte destas largadas. Quantos dos 15 mil visões largados ainda sobrevivem em Espanha? e qual o seu impacte nos ecossistemas onde agora vivem? Porque parece um facto previamente assumado que as largadas têm um impacte significativo, aqui até já classificado como "monumental". E será mesmo ou pensa-se que terá? ilustrativo era saber o que se então passou em Espanha, tantos anos passados

Henk Feith

Gonçalo Rosa disse...

Henk,

Não faço ideia qual o impacte destas introduções. Sei que há alguns registos documentados no Norte do país e ando a tentar obter mais informação.

De qualquer modo, a acção é completamente inadmissível sobre o ponto de vista ético. Relativamente aos proprietários, nada do que li a parece distinguir daquela acção realizada há uns anos atrás, por umas dezenas de selvagens que, no Algarve, destruiram parte de um campo de milho geneticamente modificado.

Mas do ponto de vista ambiental, soltar uma espécie exótica nestas quantidades/condições parece-me, no mínimo, um risco para a conservação da natureza completamente inadmíssivel. Mas enfim, obviamente que estes meliantes se estão completamente nas tintas para isso.

Gonçalo Rosa

Henk Feith disse...

Gonçalo,

Vamos por partes.

Que é uma iniciativa inadmissível pelos mais diversos motivos, estamos todos de acordo.

Que o princípio de precaução nos leva supor que é possível que haja um impacto ambiental significativo, também parece pacífico.

No entanto, a ação deve ser avaliada nos seus dois vertentes: a violação dos mais básicos princípios de civismo, respeito pelos direitos e propriedade alheia, por um lado, e a provocação de um impacto ambiental significativo por outro.

Enquanto não faltam evidências do primeiro, do segundo ainda não vi/li evidência nenhuma, embora toda a gente (aparentemente) parta do princípio que sim, que é muito grave.

A introdução de espécies exóticas no espaço natural acontece todos os dias. Somente uma pequeníssima parte destas espécies consegue sobreviver no seu novo ambiente e uma parte desta consegue, de facto, provocar danos significativos em população de espécies autóctones.

E volto a perguntar: dos acontecimentos que ocorreram há anos atrás, qual é/foi o seu real impacto ambiental?

Henk Feith

Gonçalo Rosa disse...

Henk,

Eu não falei em desastre ambiental. O que falei foi em risco. E falei principalmente em meios e responsáveis por estas práticas criminosas.

Um abraço, Gonçalo

SOS Ria Formosa disse...

pois a introdução de ostras exóticas na ria formosa em quantidades monstruosas, está a causar impacto nas ostras portuguesas e na fauna da ria formosa pois as ostras que importam de França além de serem exóticas trazem agarradas a elas montes de fauna, que nada tem a ver com a da ria formosa já há anos se falou das algas tipo sargaço pois elas vieram com as ostras de França.da zona da Bretanha.

Gonçalo Rosa disse...

Caro SOS Ria Formosa,

O seu comentário é lateral a este post... mas explique-me lá que história é essa das ostras portuguesas. Exactamente de que ostras é que está a falar?

Gonçalo Rosa

Nuno disse...

Na sequência desta história, só para mostrar que um movimento não se reduz aos extremismos (embora isso torne tudo mais aborrecido):

"Anti-fur campaigners slam mink release "

http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/148420.stm



E em relação ás consequências, existe um estudo feito na Irlanda que aborda a presença já excessiva dos visões na região dos produtores de peles, devido a fugas acidentais, resumo do estudo aqui:

http://www.npws.ie/en/media/NPWS/Publications/IrishWildlifeManuals/Media,6784,en.pdf

E aqui um resumo do estudo do impacto sobre o visão europeu por parte do primo americano, importado para comércio de pele:

http://www.voiceofthevoiceless.org/wp-content/uploads/2010/03/mink-release-study.pdf

Como sou leigo na matéria não sei se estes estudos chegam para estabelecer o impacto negativo destas acções, para o que alerta o Henk Feith.

Não encontrei algo que referisse o pormenor que teria curiosidade em saber- se esta invasão destrutiva só ocorre quando um grupo extremista intervém ou se o resultado é o mesmo mas com efeito retardado com a mera presença das explorações de pele num local.

Gonçalo Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gonçalo Rosa disse...

Nuno: "só para mostrar que um movimento não se reduz aos extremismos (embora isso torne tudo mais aborrecido)"

Gonçalo: É evidente que não se reduz aos extremismos, mas também é evidente que são estes que fazem capa de jornal e que, como tal, quer queira quer não queira, por falta de conhecimento é a imagem que sistematicamente passa para a opinião pública sobre animalistas (em Portugal, acontece o mesmo com os ambientalistas; no entanto, uma postura mais cuidada, decente e inteligente tem, de alguma forma, vindo a mudar a opinão pública sobre este movimento).

Nuno : "...impacto sobre o visão europeu por parte do primo americano, importado para comércio de pele"

e

"...teria curiosidade em saber- se esta invasão destrutiva só ocorre quando um grupo extremista intervém ou se o resultado é o mesmo mas com efeito retardado com a mera presença das explorações de pele num local"

Lá estamos outra vez a relativizar a acção deste bando de meliantes. Quando vai de encontro às nossas convicções é irresistível fecharmos olhos aos meios, não é?
(a democracia é uma enorme chatice...!)

Os visões estão-se a borrifar se são soltos por negligência de donos ou funcionários, se por falha técnica nas instalações ou se por um qualquer movimento extremista. Mas sob o ponto de vista ético e legal, é evidente que as situações são completamente distintas.

O que me parece potencialmente mais perigosa é a libertação de uma quantidade considerável (e nem sequer estou a falar de 5.000 que é um número monstruoso) em vez de uma fuga mais ou menos pontual de indivíduos ou de um pequeno grupo.

Gonçalo Rosa
ps - o link que enviou conduz a um interessante relatório, na página 46 há um capítulo que inclui os custos económicos de acções para recapturar visões; é um óptimo ponto de partida para um juíz local calcular parte dos custos que estes meliantes terão que assumir, para além de uma possível pena.

Miguel B. Araujo disse...

Luís,

Os criadores de visões não têm o monopólio do cativeiro de animais exóticos. Qualquer Zoo tem um repositório mais extenso de tais animais e não consta que sejam um problema maior, designadamente no que respeita a fuga de mamíferos (há casos de fugas de aves que nalguns casos trouxe problemas).

Eu não misturaria a posse legal de animais exóticos (que pode obviamente ser discutida, como qualquer assunto) com a libertação massiva dos mesmos no campo, na sequência actos ilegais.

Nuno disse...

@Gonçalo Rosa,

Não estou a relativizar o que quer que seja, a acção é claramente criminosa e com danos para propriedade privada e pública.
Concordo que os danos sejam contabilizados da forma que mencionou, que de resto julgo ser algo que aconteceu num processo no RU há mais de 10 anos, e bem. Julgo que é 1000º vez que digo isto.

O que me preocupa é que os tais "animalistas" não querem saber do impacto que teve a libertação de visões e quem é (legitimamente) contra esta acção não quer saber mais sobre se a existência de produtores de peles traz mais prejuízos do que benefícios. Só existem estas duas correntes de pensamento?

Pode-se fazer um exercício- imagine-se que não tinha ocorrido qualquer libertação de peles e discutia-se somente o impacto das explorações, ainda não faz sentido a minha questão sobre qual será o impacto a longo prazo deste negócio, sendo claro que existem fugas acidentais? É um problema de condições da actividade ou da sua existência em si?

Julgo que isto pode e deve ser visto com objectividade, eu nem sequer assumi como um facto que as fugas são significativas ou não, repare que estava só a colocar uma questão que julgo pertinente mas isso basta para se categorizar ideologicamente e evitar a questão.

Quanto a respostas fiquei na mesma, mas a minha curiosidade mantém-se:

A posse de animais exóticos não tem um impacto diferente consoante a espécie, localização ou o modo como é mantida? Nomeadamente falando-se de milhares de indivíduos mantidos num único local cuja envolvente têm capacidades de colonizar?

Mais uma vez só para ser claro- não sou biólogo, nem criador de peles, nem animalo-terrorista, só um curioso.