terça-feira, janeiro 01, 2013

To Chile and back again


Projeto de florestação com Eucalyptus nitens - Nascimiento - IX Região
Tive a sorte de realizar uma viagem de estudo ao Chile com um colega meu. O objetivo era visitar empresas florestais da fileira de celulose chilenas e comparar práticas, dificuldades e soluções.

Chile é um país extraordinário. Em todos os sentidos. A sua geografia e geologia únicas, as condições fabulosas de produção primária em grande parte do seu território, proporcionadas por solos muito fertis e condições edafoclimáticas favoráveis.

A economia chilena, como muitas outras sulamericanas, tem tido crescimentos do PIB na casa do 5% ao longo dos últimos anos. O clima social de otimismo e confiança no futuro está presente em todo o lado. É notável como se vê sempre muitas pessoas a trabalhar, sejam em explorações agrícolas ou florestais, no comércio, nos hoteis e restauração, na construção.

Para nós, técnicos florestais Portugueses, custa sempre um pouco olhar para essa realidade.
Ficamos intimidados com as produções florestais que são conseguidas no Chile.
Ficamos admirados com a organização da fileira, com o professionalismo das empresas que atuam nela, tanto as da gestão florestal como as de serviços de exploração.
Ficamos espantados com a cultura omnipresente de saúde e segurança em trabalho.
Ficamos inspirados com a engenharia hidráulica, empregue por todo o lado na floresta.
Ficamos invejosos com a objetividade e espírito de apoio ao investimento florestal que os serviços florestais chilenos manifestam, ajudando o proprietário com a gestão do seu terreno.
Ficamos incrédulos com a simplicidade e eficácia da legislação florestal Chilena que, com base em meia dúzia de regras simples de conduta e boas práticas, baliza o espaço para o produtor florestal, deixando a este as decisões sobre onde investir e em quê, sem preconceitos ou pretenções moralistas sobre o que é bom ou o que deve ser. Desde que não se toca nos "bosques nativos", cartografados e protegidos integralmente, para o legislador chileno, tanto lhe faz o investimento ser em vinhas, pomares, pinhais, eucaliptais, morangueiros ou prados, isto é deixado ao critério do proprietário do terreno.

Verificámos que temos muitos desafios em comum. Desde as pragas da cultura, os incêndios florestais, as espécies exóticas invasoras, as condições de segurança no trabalho, as exigências da certificação florestal, os desafios do diálogo com as partes interessadas, as pressões de organizações de proteção ambiental, conciliar áreas de produção florestal com biodiversidade.

Observámos soluções semelhantes, desde a aposta no melhoramento genético das plantas, o reconhecimento da importância dos tratamentos culturais, a solidez técnica das operações, o aprofundar do diálogo com partes interessadas, o envolvimento de especialistas na procura das soluções.

Concluímos que estamos em portugal à frente em áreas como produção em talhadia, em projetos de conservação de natureza e biodiversidade, em luta integrada de pragas, em sistemas de informação e inventariação.

Foi muito bom. Agora, de regresso à realidade portuguesa, às vezes o Chile parece tão longe e tão irreal como a Neverland (a de Peter Pan, não a de Michael Jackson) ...

8 comentários:

Anónimo disse...

Chile: um modelo florestal que gera pobreza e indigência

O caso do Chile é apresentado, na América Latina, como um modelo bem-sucedido em matéria de florestas, apesar de numerosas organizações chilenas e em particular de indígenas Mapuche virem denunciando há anos os impactos das grandes plantações de pinheiros e eucaliptos instalados no sul do país. Contudo, isso não foi um obstáculo para que consultores florestais bem remunerados continuassem repetindo as mesmas mentiras e convencendo os governos de outros países (Peru e Equador são os casos mais recentes) a transitar o "bem-sucedido" caminho chileno. Como parte do pacote publicitário, aqueles que promovem o modelo incluem a suposta capacidade de as plantações gerarem empregos, e a decorrente melhora na qualidade de vida das populações locais.

Consultar:
SciELO La biblioteca científica - SciELO Chile, es una biblioteca electrónica que incluye, una colección seleccionada de revistas científicas chilenas, en todas las áreas del conocimiento.


http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0717-92002005000300002&script=sci_arttext


Excerto:

“Uma das maiores contradições do setor florestal chileno é que ao tempo que houve um crescimento notável das exportações florestais a partir de plantações de pinheiro e eucalipto principalmente distribuídas nas Regiões VIII e IX, a população dessas Regiões não teve sua qualidade de vida melhorada. Durante o rápido processo de expansão das plantações (principalmente nas décadas de 70 e 80) houve problemas de migrações, crescimento explosivo de povoados bem estabelecidos e de desemprego. Atualmente, a atividade florestal no Chile está concentrada da Região VII à X, e são justamente essas quatro Regiões as que têm os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos. Conforme dados do governo, entre 1990 e 1998, as Regiões VIII e IX tiveram a maior quantidade de pobres (40,5% em média em 1990 e 27,3% em média em 1998) e indigentes (15,2% em média em 1990 e 8,5% em média em 1998). Conforme a mesma fonte, a relação entre pobreza e distribuição de renda é evidente segundo o Coeficiente de Gini: em 1998, as Regiões VIII e IX apresentavam as piores condições de distribuição de renda no Chile. Por áreas particulares, a IX Região tem a maior porcentagem de pessoas com assistência sanitária regular ou muito ruim (41,7%), e quanto à educação, as Regiões VII, X e IX têm a maior porcentagem de população entre 4 e 17 anos que não freqüenta nenhum estabelecimento de ensino. E ainda, a VIII Região, que concentra as maiores superfícies de plantações de espécies exóticas, é também a mais pobre e a que tem a maior porcentagem de população rural indigente no país. Seguindo à VIII Região, a IX Região é a que tem maior atividade florestal no Chile e a de maior concentração de população Mapuche. Os Mapuche nessa Região recebem a metade da renda e os IDH em todos os aspectos são inferiores aos da população não Mapuche. Além disso, existem atualmente sérios conflitos entre empresas florestais ou agrícolas e comunidades Mapuche por reclamações relativas à propriedade das terras.”
“Apesar de ser injusto o fato de atribuir os problemas mencionados exclusivamente ao setor florestal, os dados sugerem que esse setor também não tem contribuído a melhorar a situação sócio- econômica dos habitantes dessas regiões, nem sequer em nível rural. Para ilustrar, entre os anos de 1987 e 1996, as Regiões VII, VIII e IX, além da III, registraram os piores índices de superação da pobreza, enquanto as exportações florestais nesse período aumentaram. Isso pode ser explicado, entre outros fatores, pelos baixos salários dos trabalhadores, fator que justamente contribuiu para atrair capitais ao setor florestal chileno.”

Anónimo disse...

Com «ambientalistas» como o Henk que defendem o modelo florestal industrial, ainda bem que existem muitos industriais e empreendedores que defendem o modelo florestal ecológico amigo do ambiente ( exemplo: https://fp.auburn.edu/preserve/about.html)

Por outras palavras: com «ambientalistas» destes ( Henk) , o ambiente não precisa de ter inimigos e adversários, basta converter os seus inimigos em ... «ambientalistas» propagandistas do modelo florestal industrial. É mais fácil e eficaz.

E já agora porque não substituir os nomes: os ambientalistas terem um blogue intitulado Poluição, e os industriais terem um blogue com o pomposo título de Sustentabilidade ou Ambio.

Bem-vindos à novilíngua do Big Brother!

Henk Feith disse...

Caro Anónimo #1,

Obrigado pela ligação ao relatório da Bosque.

Não há dúvida que florestas plantadas não sejam perfeitas. Agora, havendo florestas plantadas, interessa que essas sejam geridas da melhor forma, para proporcionar os bens florestais que todos consumimos. E, do que eu vi no Chile, as empresas Chilenas têm níveis de gestão que não ficam nada atrás das empresas Escandinavas que são tão elogiadas. Aliás, essa qualidade é lhes conhecida por exemplo pelos certificados FSC que lhe são atribuídos.

O relatório que cita, que me parece ser feita com seriedade e que li com interesse, baseia-se numa análise do setor florestal Chileno até o fim do milénio. As citações do relatório são na sua quase totalidade antes do ano 2000, tal como as estatísticas apresentadas. Acontece que muito mudou desde então para melhor.

Se olharmos para as estatísticas mais recentes da INFOR (2009), atualmente 17% da floresta Chilena é ocupada por plantações industriais (2,3 Mha). Quer isto dizer que 83% da floresta é ocupada por espécies nativas (13,5Mha). Agora, atribuir o menor desenvolvimento social de uma região a uma parcela da florestal que é inferior a um quinta do total, é pelo menos curioso e se calhar pouco honesto. Mas ao mesmo tempo, o relatório relata que o número de pobres nas regiões VIII e IX baixou de 40% para 27% em menos de 10 anos (de 1990 a 1998). Isto é muito significativo. Embora não digo que seja de atribuir exclusivamente à atividadade económica das empresas florestais, também não é razoável negar-lhe qualquer contributo.

As florestas nativas não têm capacidade produtiva para satisfazer as necessidades de produtos florestais da sociedade moderna. Se dependesse delas, esse mesmo consumo destruí-las-ia em pouco tempo. É internacionalmente reconhecido que as floretas plantadas tenham um papel fundamental na proteção das florestas nativas.

O que interessa é discutir qual a melhor forma de gerir as florestas, sejam nativas ou plantações. Diabolizar umas e idolatrar outras somente leva a extremar posições em vez de as aproximar.

Henk Feith

Henk Feith disse...

Caro Anónimo #2,

Ambio é um blogue cujo lema é Reflexão sobre Ambiente e Sociedade.

A reflexão faz-se através de análise de opiniões divergentes e da discussão das ideias expressas.

Se acha que meus posts são incorretos num blogue "ambientalista", que ofendem a linha pura do ambientalismo, se calhar o anónimo devia ir a procura de outros blogues onde não é incomodado por opiniões diferentes das suas.

Se um dia tiver algum contributo substancial para a reflexão, terei todo o gosto em discutir ideias consigo, mesmo sob anonimato (seu, claro).

Henk Feith

Anónimo disse...

Meu caro

Ao contrário do que escreve, e das conclusões a que precipitadamente chega (as visitas de relações públicas são um negócio em alta, pode consultar um relatório de 2009, elaborado por engenheiros florestais, ainda mais arrasador do cataclismo que atingiu a floresta chilena em
http://www.bosquenativo.cl/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=13&Itemid=42

Longe da visão idílica ( e interesseira?) que o caríssimo transmite, está a ganância dos interesses económicos que se encontram na exploração desenfreada dos recursos naturais do Chile.

Só não vê quem não quer. A estes últimos, nem a medicina os pode salvar!

Na realidade, nem todos podem ter uma boa formação intelectual, lendo R.L.Stevenson:

It is not so much for its beauty that the forest makes a claim upon men's hearts, as for that subtle something, that quality of air that emanation from old trees, that so wonderfully changes and renews a weary spirit.
Robert Louis Stevenson

Anónimo disse...

Caro Henk,

Deixe-me agradecer o seu post.

Penso que muitos de nós poderiam pensar um pouco nas suas palavras:

"A reflexão faz-se através de análise de opiniões divergentes e da discussão das ideias expressas."

Infelizmente, no anonimato da internet parece que a maioria das pessoas não pára para reflectir. Não há uma genuína discussão e os comentários a qualquer tema mais polémico resumem-se a quezílias, que invariavelmente acabam por azedar bastante.

Apesar de nem sempre estar de acordo, tenho que louvar e agradecer o seu esforço em tentar demostrar exemplos concretos de que é possível tentar conciliar conservação e produção, e que na maioria dos casos nem é preciso gastar muito dinheiro, apenas ter vontade e pensar um pouco nas coisas.

Lamento imenso que haja pessoas que não percebam o valor dos seus post (concordando ou não com o seu conteúdo) e que gastem a sua energia e sabedoria (?) em ataques gratuitos, quando existe tanto em que poderiam ajudar a fazer em Portugal.

AC

Henk Feith disse...

Caro AC,

Obrigado pelas palavras simpáticas. Ainda bem que não concorde sempre comigo: no dia em que todos concordarem comigo deixarei de publicar posts. Mas esse risco é bastante reduzido...

Um abraço,

Henk

Anónimo disse...

Caro Henk

Tiro o meu chapéu ao seu último comentário. Constitui uma lição de educação e de formação cívica e de respeito pela liberdade de expressão a quem intitulando-se de apaniguado da democracia liberal não tem a mínima noção do que isso é.
Relativamente ao seu texto acerca da visita ao Chile, permita-me que lhe recomende uma reflexão mais séria.
Os meus cordiais cumprimentos.

O anónimo AAS