sexta-feira, junho 28, 2013

Olha, enganei-me

O Luís Lavoura já tinha dito que o vento estava de Norte. Na realidade só estava de Norte no litoral, estava, tem estado e ainda estará de Leste ou, especialmente, Nordeste, no interior.
Eu estaria por isso à espera de ver muito mais fogos. De facto de Sábado para Domingo o número de fogos diários triplicou, mas para um patamar ainda gerível, em torno dos 110 a 120 fgos diários.
Mais importante, estes fogos foram sempre mais ou menos simples de apagar, ao contrário do que é costume em situações de vento Leste.
Olhando para os mapas, e tendo atravessado uma boa parte de Portugal nestes dias, dá-me a impressão de que o que foi diferente desta vez é que o vento que alimentava as correntes que estavam a chegar de Espanha eram de Norte até mais ou menos ao vale do Tejo, e de Sul daí para baixo.
De facto sentia-se uma frescura e humidade bastante catitas no início da manhã em zonas que, em condições de vento Leste, são habitualmente impossíveis de refrescar.
Talvez tenha mais rzão o Henk (é natural, sabe mais disto) que Sábado e Domingo sejam dias piores, mas parece-me que estamos ainda no patamar normal de fogos, sem grande expressão, com um ou outro a fugir um bocado mais de controlo.
Antes assim.
henrique pereira dos santos

38 comentários:

Anónimo disse...

É esta frontalidade que admiro no Henrique. Perante a previsão errada, não evoca argumentos e admite o limite do seu conhecimento.

Anónimo disse...

Com a mesma frontalidade o Henrique Pereira dos Santos devia também confessar que se enganou noutras matérias.
Como, por exemplo,em matéria económica e orçamental: a austeridade, em vez de resolver os problemas sociais e económicos, está a aumentar a dívida e a agravar todos os problemas crónicas de que padece o país.
Outro engano do HPS é pensar que o Borda d'água é uma variável no investimento.
Outro erro é...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Obrigado ao primeiro comentador.
Quanto ao segundo comentador, começo a minha resposta citando fielmente uma famosa resposta do Caetano Veloso a uma pergunta de um crítica de música de um jornal: "Você é burro, cara, que loucura. Como você é burro. Que coisa absurda. Isso aí que você disse é tudo burrice. Burrice. Eu não consigo gravar muito bem o que você disse porque você fala de uma maneira burra. Entendeu?" E Caetano continua depois a explicação, que é o que vou fazer. Alguma vez viu alguém dizer que a austeridade serve para resolver os problemas sociais e económicos? Só alguém muito burro pode admitir essa hipótese. É evidente que a austeridade agrava os problemas sociais e, resolvendo alguns problemas económicos, agrava outros. Só que entre os problemas que são agravados pela austeridade não está a dívida (a falta de austeridade e de sensatez é criou a dinâmica de dívida que a austeridade tem vindo a travar) e muito menos todos os problemas crónicos do país, como se demonstra pela excelente e inacreditável performance positiva que Portugal está a ter na correcção da base de todos os problemas que vamos tendo: o défice sistemático que tivemos até ao fim do ano passado e que hoje passou a saldo positivo (acredito que mesmo uma pessoa tão burra conseguirá saber a diferença entre défice externo e défice das contas públicas). Retomando o Caetano: "Se você pensa que pode deduzir das coisas que eu falo isso, você é mais burro ainda do que parece quando fez a pergunta".
henrique pereira dos santos

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

Não me parece de todo que seja verdade que a austeridade não esteja a agravar a dívida (antes fosse, para que eu pudesse reconhecer alguma racionalidade nisto tudo).

Os factos parecem-me estarem a demonstrar exactamente o oposto.

As razões para isso parecem-me claras: mais austeridade leva a mais recessão que leva a mais desemprego&falências que leva a menos receitas para o Estado (e mais despesas) que leva a menores condições de pagar a dívida (que aumenta relativamente ao PIB) que leva a mais medidas de austeridade que (...).

Mais, a ajuda que nos está a ser dada (~80 mil milhões de Euros) está a acrescer à dívida que já tínhamos (julgo que corresponderá a cerca de 30% da mesma o que não é de todo irrelevante), logo esta também está a aumentar em termos absolutos!

O único indicador que me parece que de facto tem melhorado é o da balança comercial de Portugal, embora também aí devemos tentar perceber se as suas causas são estruturais ou conjunturais (e eu receio bem serem mais devido às últimas do que às primeiras).

O mais absurdo disto tudo é que eu acho que todos (Governo, Troika, UE, Alemanha, ...) já perceberam há muito que este caminho não é solução para coisa nenhuma (é uma pura estupidez), mas continuam a insistir no mesmo para não perderem a face (o FMI, embora 1º responsável pelo desenho das medidas, é o único que vai reconhecendo o problema).

-miguel

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Vamos então aos factos.
Antes da assinatura do memorando de entendimento, o crescimento da dívida, em percentagem do PIB, é o seguinte: partindo de 48,4% em 2000, a dívida cresce 2 a 3% ao ano até 2006. No ano seguinte cresce 4,5%, depois 3,5%, o que faz que em 2008 a dívida fosse 71,7% do PIB. Resultado da austeridade? Não evidentemente. Em 2009 cresce 12% num ano (doze, não é engano?. Por causa da austeridade? Não, por causa da política de estímulos públicos à economia. em 2010 cresce quase outros 10%. Em 2011 cresce 14 por cento e em 2012 cerca de 15%. Por causa da austeridade? Uma pequena parte até poderia ser, mas simplesmente não é assim: 1) Cresce pelo mero efeito matemático da descida do PIB; 2) Cresce porque há um conjunto muito grande de dívidas que estavam contabilísticamente fora do âmbito do cálculo da dívida pública, embora fossem de facto dívidas a pagar pelo público(como as dívidas das empresas transportadoras); 3) Cresce porque aumentam os juros e aumenta o stock da dívida, e portanto aumenta a despesa. O simples facto desta dinâmica começar muito antes das políticas de austeridade a sério demonstram que essas teorias sobre o efeito negativo da austeridade na dívida não têm ponta por onde se lhe pegue racionalmente. Para que o que descreves fosse assim, era preciso que o Estado recebesse mais dinheiro que o que gastasse em estímulos à economia, coisa que os últimos vinte anos demonstram, à saciedade, estar muito longe de ser verdade. (continua)

Henrique Pereira dos Santos disse...

Que a austeridade tem um efeito recessivo, estamos todos de acordo. Que esse efeito recessivo tem um efeito de redução das receitas (por via da redução dos impostos) e um efeito de aumento da despesas (por via das prestações sociais) também estamos de acordo. Que isso signifique uma espial recessiva é que já não estamos de acordo. E não estamos de acordo porque o défice, apesar de se ir absorvendo muita despesa nova (por exemplo, este ano, como a CGD não dá lucro, o aumento de capital conta para o défice), tem vindo a descer consistentemente. Só haveria espiral recessiva se o défice (e a dívida é défice acumulado) fosse aumentando, o que não tem acontecido.
Para além disso, no teu modelo descritivo estar a esquecer o efeito transformador que a austeridade está a ter: sendo certo que muitas empresas vão à falência, muitas outras adaptam-se às condições (aliás muito difíceis) que existem, e isso tem vindo a mudar estruturalmente a economia, com importações a descerem e exportações a subirem. Devo dizer que esta mudança tem um efeito muito negativo nas contas públicas porque as exportações vão pagar impostos fora do país e não tanto cá dentro.
Ora esta mudança estrutural era exactamente o que se pretendia com o memorando: dar capacidade de financiamento à economia portuguesa, o que já hoje acontece, apesar dos problemas com as finanças públicas, como elevadas necessidades de financiamento (que evidentemente seriam muito maiores sem austeridade, com os últimos vinte anos demonstram). (continua)

Henrique Pereira dos Santos disse...

Quanto a essas tuas contas sobre o facto dos 78 milhões acrescerem à dívida, deixam-me atónito. Essa necessidade de financiamento não é criada nem pela austeridade, nem pelo programa de assitência, é exactamente criada antes. E é o facto de não encontrares ninguém que quisesse emprestar dinheiro a Portugal, mesmo com juros acima de 10%, que faz com que a troika negoceie um programa de assistência que tem dois objectivos: um, imediato, fazer entrar esses 78 mil milhões na economia portuguesa, sem os quais a economia colapsava; dois, corrigir os desequilíbrios estruturais com o exterior que estão na origem de todos os outros desequilíbrios.
Os dois objectivos estão essencialmente cumpridos.
Sobra o problema de financiamento do Estado, que não é criado agora, e que precisa de tempo para ser resolvido (porque é preciso deixar de ter défice, porque sempre que há défice, a dívida aumenta).
henrique pereira dos santos

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

Não creio ter dito em lado algum que a dívida é resultante da austeridade. O que disse, e repito, é que a austeridade (pelo menos na forma e na dimensão com) que está a ser aplicada não a está a resolver (antes pelo contrário).

(E apenas fiz isso porque tu escreveste que a austeridade não agrava a dívida.)

Obviamente que eu não podia estar mais de acordo contigo quando ao absurdo de o país se ter endividado excessivamente.
Não estou de forma alguma a querer desculpar os (des)governos que antecederam este (nos quais incluo os que pertenceram ao nosso inacreditável PR). Fizerem enormes disparates (com a conivência e interesse dos nossos "amigos" da Comissão Europeia), pelos quais estamos e estaremos a pagar por muitos anos.

Nada disso no entanto, nos deve impedir criticar este caminho absolutamente irracional que não me parece estar a resolver coisa nenhuma (escusado será dizer o quão gostaria de mais uma vez poder estar errado aqui).

-miguel

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel, a austeridade não agrava dívida coisa nenhuma, pelo contrário, diminui o seu agravamento ao diminuir o défice.
Não há muito a discutir por esse lado, é pura matemática: se dívida é défice acumulado, se o défice tem baixado em função das políticas de austeridade, o agravamento da dívida não resulta da austeridade.
Volto a repetir que grande parte deste agravamento nominal são meras operações contabilísticas, é simplesmente tornar claro que teremos de pagar as dívidas que foram escondidas nas empresas públicas e outros locais propícios.
henrique

Henrique Pereira dos Santos disse...

E está a resolver sim. A economia deixou de endividar para gerar excedentes e o Estado está a endividar-se a um ritmo muito mais lento que sem austeridade (como os últimos vinte anos bem demonstram).
Não aplicando medidas de austeridade, explica-me em que medida tens um ritmo mais lento de endividamento?
Não deixando falir as empresas de construção civil e os cafés e os stands de carro que orbitavam em torno do dinheiro que entrava a rodos no país por via do endividamento do Estado?
Ou tens uma varinha mágica?
henrique

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

Não creio de todo que o défice esteja a descer consistentemente como tu afirmas (isto apesar do aumento e da carga de impostos ser absolutamente insustentável). Dos problemas que era suposto (inicialmente) todo este programa de "apoio" a Portugal resolver: a dívida e o défice, não creio estar nenhum a ser resolvido (ou que para lá estejamos a caminhar).

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Eu não disse (ou pelo menos não quis dizer) que a necessidade de financiamento da economia portuguesa (os tais 80 mme) tenha resultado da austeridade. O que eu disse, é que a dívida de Portugal aumentou com esta intervenção (ou seja não estancou). Sim, tens razão quando dizes que o mesmo aconteceria sem a intervenção (na altura da mesma com taxas de juro incomportáveis). O que esta intervenção está a fazer de diferente e com impacto forte na dívida é o facto (julgo eu!) de estar degradar substancialmente as condições para a podermos pagar (pelo que voltamos ao mesmo: que problema estamos ao certo a resolver?).

Pelo caminho, está-se a destruir pilares importantes do bem comum que é (ou devia ser) o Estado: saúde, educação, apoios sociais, etc.. E isto sempre com a mesma lenga-lenga de não haver dinheiro (que curiosamente não parece faltar para o Estado continuar a injectar no sistema financeiro...).

(Nota que, uma vez mais, não estou a dizer que há um fartote de dinheiro para podermos esbanjar à tripa-forra. Estou sim a dizer que: (1) há escolhas profundamente erradas na forma como está a ser gasto o [pouco] dinheiro que há e que com este caminho o Estado terá cada vez menos dinheiro).

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Receio bem que o "efeito transformador que a austeridade está a ter" possa vir a ser bem mais terrível do que aquele a que fazes referência. (Nessa eventualidade espero que os nossos "amigos" da CE e do governo da Alemanha não tenham a suprema indignidade e cinismo de nos vir, a nós todos os portugueses (e não ao Governo), imputar a culpa pelo rotundo falhanço que está a ser IMHO este programa).

-miguel

Henrique Pereira dos Santos disse...

Boa conversa, Miguel.
Discussão clara, acesa, mas perfeitamente civilizada.
O teu erro base de avaliação do programa de assistência (que é aliás um erro muito, muito comum) é dizeres que o programa de assistência pretendida resolver o problema do défice e da dívida.
Não, o programa pretendia resolver o problema de financiamento da economia portuguesa. Para isso tem de colocar a dívida e o défice em trajectórias sustentáveis e crediveis.
Mas volto a dizer, o problema central não é o défice público (é muito importante, até por secar o dinheiro disponível para as famílias e a economia) mas sim o défice externo.
É exactamente porque esse é o problema principal que o financiamento da economia ficou mais razoável.
Tens números diferentes dos oficiais quanto à descida do défice? É que os oficiais demonstram uma descida consistente do défice estrutural, que é o que interessa (muito menor do que eu gostaria, mas isso é outra discussão).
Ora se o défice público está a descer, se o défice externo desapareceu e se a actividade económica não está a acentuar a queda (neste momento não é previsível que a queda do PIB seja maior que a do ano passado), claro que estamos a melhorar as condições de pagar a dívida.
É que as alternativas que conheço implicam todas não pagar em parte a dívida. Podemos admitir que isso seja bom, se não tivermos que nos chatear com os nossos credores, podemos admitir que isso seja mau se for feito contra a vontade dos credores, unilateralmente, porque isso nos corta o acesso ao financiamento.
Quanto ao efeito terrível (e reconheço a importância do desemprego) vai ler o relatório de hoje do INE sobre as contas públicas e vai lá verificar que aumentou o rendimento das famílias (embora tenham diminuído as remunerações, foram bastante compensadas pelos aumentos de rendimento de propriedade, o que é lógico por estar a aumentar a taxa de poupança, mas sobretudo pelas prestações sociais).
henrique pereira dos santos

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

Pode ser que seja um erro de base meu (e de outros), mas foi isso que nos foi dito (aqui sim: à tripa-forra e "custe o que custar").

Admitamos então que que o problema que se pretendeu resolver era "somente" o financiamento da economia portuguesa.

Assim sendo, então parece-me que estratégia seguida está (cinicamente) a optar pela destruição dessa mesma economia (situação em que, de facto, o problema do seu financiamento se vai resolvendo...), ao invés de melhorar o diferencial receita/despesa do Estado (aumentar impostos nem sempre contribui para este fim, como se está a ver).

Se o objectivo era esse, também não faz muito sentido para mim a imposição de se querer à viva força repor esse equilíbrio em poucos anos, e com uma agenda claramente anti-Estado minando fortemente o objectivo pelo qual este (e a Democracia) existe(m) (e se mantém!): o bem estar de (!todos! os) seus cidadãos [1].

É que se esse caminho implica o desemprego de 1 milhão de concidadãos (e a saída massiva de jovens extremamente qualificados que tanto dinheiro custaram ao Estado para formar), temos de começar a pensar se não estamos a "perder o bebé com a água do banho" (como os Ingleses costumam dizer).

Assim, parece-me que estamos a aproximar-mo-nos a passos largos (não confundir com coelho) de um 2º resgate e não de um financiamento sustentável da economia.


Será que para resolver (de facto) estes problemas não seria bem mais inteligente fazer um SWAP ao contrário (passe o pleonasmo) a favor de Estados à beira da falência?

Ou seja, a troika (ou quem quer que seja credor de direito) estabelecer com países como Portugal (e a Grécia) empréstimos cujo pagamento (acima de um mínimo fixo razoável) dependesse da sanidade económica do país?
Países em recessão não pagariam juros (podendo mesmo ter prazos de amortização que pudessem ser adaptáveis), em crescimento pagariam juros dele directamente dependentes (de forma a que o balanço final do empréstimo para os credores fosse o mesmo que agora era suposto ser, mas sem destruir o Estado e a economia dos países pelo caminho).

Nos últimos anos temos visto inúmeros irresponsáveis de instituições financeiras a criar instrumentos financeiros que empalideceriam a Dona Branca, com resultados absolutamente desastrosos para a economia mundial. Que bom seria que parte dessa criatividade fosse aplicada a criar instrumentos financeiros que salvassem (e não afundassem) os países (e a maioria dos seus cidadãos).

--

Insisto, continuo a não ver ao certo que problema estamos aqui a resolver
(e sinceramente desejo aqui, como em muitas questões ambientais, que no "fim" não tenha tido razão nenhuma).

-miguel

PS: É também para mim um gosto, e uma honra, ter uma discussão com uma pessoa com a honestidade intelectual e a frontalidade que o Henrique tem. Aprendo sempre coisas que não sabia.


[1] Muito embora me considere claramente um cidadão com opções políticas de esquerda (não confundir com "partidárias"), reconheço os méritos que podem advir pela eficiência económica que a sã concorrência podem trazer para todos. O que eu não compreendo de todo, é que se queira privatizar serviços do Estado onde não é possível (nem faz sentido) haver concorrência, como é o caso da REN e do fornecimento de água (também não compreendo bem nacionalização chinesa, cá designada por privatização, da EDP).

Henrique Pereira dos Santos disse...

Não, Miguel, não foi dito (e se foi é asneira) que o programa de assistência era para resolver a dívida e o défice, embora a resolução do défice e da dívida sejam questões essenciais para garantir o retomar do financiamento da economia portuguesa.
Não percebo como queres melhorar o diferencial receita/ despesa sem diminuir a despesa (é isso que se chama austeridade) e sem aumentar impostos, numa economia que compra mais que o que vende, depende inteiramente do financiamento externo, que desapareceu. Sinceramente não sei como se faz (por favor não me venhas falar de políticas de crescimento que essas foram aplicadas durante trinta anos com os resultados que conhecemos).
Essa de dizer que não faz sentido ser em tão poucos anos também é incompreensível. Se estás a gastar mais que o que ganhas, quanto mais tempo passar antes de passar a gastar menos que ganhas, mais ficas a dever.
Está descansado com os jovens que emigram dão muito retorno ao país. Pensei que a conversa fosse mais objectiva que esses espantalhos do milhão de desempregados e dos jovens que custaram tanto a formar.
Sim corremos o risco de um segundo resgate, mas não é por causa da austeridade, é por falta de austeridade, camarada. É por não conseguirmos ser mais rápidos a reequilibrar os problemas que inventámos.
Se é mais inteligente os credores desistirem de receber o dinheiro deles? Parece que acham que não. E quanto aos outros governos pagarem as nossas dívidas, parece que são países democráticos, os governos respeitam as opiniões dos seus eleitorados. E estes não estão para nos pagar as contas.
henrique

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

O diferencial receita/despesa só melhorará se ao diminuíres a despesa não estiveres também a baixar (quiçá ainda mais) a receita! (como é evidente).

Portanto: mais autoridade não implica necessariamente menor défice.

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A questão de ser para mim incompreensível querer resolver o problema em "poucos anos" deriva do facto de as receitas do país não serem imutáveis. Logo, se a receita aplicada as estiver a comprometer (como julgo ser o caso), menos condições tens de as pagar (logo, ter "mais olhos do que barriga", podem implicar um prazo bem superior para pagar o que devemos).

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Um milhão de desempregados e a emigração forçada não é um espantalho!
É um facto desumano para os envolvidos, e um problema muito sério para a tal sustentabilidade futura do financiamento da economia.

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Portanto se vier a haver um 2º resgate. o problema deriva de o governo não ter cortado mais em despesas com saúde, educação, justiça, segurança, funcionários públicos, etc.!

Não é do facto de simplesmente, se estar a destruir a economia do país (com toda esta irracionalidade).

Lamento mas não consigo compreender o argumento.

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Não sei como é contigo, mas eu não me julgo corresponsável pelo problema criado no país. Não só porque nunca vivi acima das minhas possibilidades, como também porque nunca contratei PPPs nem negociei contratos criativos com a banca e menos ainda pus e dispus do dinheiro de todos a meu bel prazer.

Essa tentativa de culpabilização colectiva é profundamente perversa (na minha opinião).

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Não Henrique, com a ideia apresentada os credores (de países em falência, bem entendido) não desistiam de receber o seu dinheiro. Simplesmente o receberiam (quiçá com juros acrescidos) quando os países estivessem em condições de garantir esses compromissos. A alternativa é não o receberem de todo (como já aconteceu na Grécia, na Argentina, e talvez num futuro próximo em Portugal).

Na tua opinião é preferível deixar o país ir à falência?

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A História mostra que há países democráticos que em que os seus eleitores não se importaram de de ajudar outros países à beira da banca-rota (por ironia da história, um deles até foi a Alemanha).

Mas enfim, é capaz de ser mais humano e economicamente racional deixar os países ir à falência e por as suas populações na miséria (a prazo, é capaz de ser uma alternativa mais sustentável e barata para a UE).

Deixando agora a ironia, IMHO e teu erro de base parece-me ser considerares que a ajuda de países à beira da bancarrota se tem de fazer da mesma forma com que normalmente os países (e respectiva banca) se endividam.

Eu não partilho dessa ideia, e acho que a chamada troika também a não devia partilhar. Situações excepcionais requerem medidas excepcionais. É para estas que organismos como o FMI, e agora a troika, deviam estar vocacionados. Um país falir não bem a mesma coisa que uma empresa ou família irem à falência. Não é também o mesmo que um banco ir à falência (as ajudas dadas à banca em que os encargos ficam para todos nós são muito discutíveis).

-miguel

Miguel Oliveira e Silva disse...

(No 2º parágrafo, onde está "autoridade" queria obviamente dizer "austeridade")

-miguel

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel, vamos fixar um ponto de partida que me parece racional: tu, eu, a Sr.ª Merkel ou o Gaspar queremos todo o melhor para todos. Temos é ideias diferentes sobre como isso se obtém.
Com isto tiramos da frente da discussão as questões puramente morais que justificariam a irracionalidade dos outros e vamos à procura da racionalidade de cada um.
1) A ideia de que a receita diminui mais que despesa por causa do corte da despesa não tem o menor fundamento, nem teórico, nem empírico. A receita diminui porque a actividade diminui. E a actividade económica diminui porque deixaste injectar na economia os 15 mil milhões por ano que eram a diferença entre o que compravas e o que vendias. Não só esse dinheiro deixou de existir, como não é líquido que a melhor opção para pagar a dívida seja manter um crescimento da dívida da economia em 15 mil milhões de euros anuais para mante artificialmente empresas de cosntrução, cafés e stands de automóveis.
2) Com ou sem políticas de austeridade, esses 15 mil milhões iriam sempre desaparecer da economia porque não tens quem tos empreste.
3) Nunca disse que mais austeridade implica necessariamente menor défice, digo é que no caso concreto de Portugal é isso que está a acontecer.
Claro que um milhão de desempregados e emigração forçada, neste contexto, é um espantalho. Há de facto um problema de desemprego e há emigração. Questões (não lhes chamo problemas porque a emigração não é problema nenhum, o período de maior crescimento económico de portugal nos últimos 200 anos corresponde também ao período de maior emigração, não proque exista uma relação de causa e efeito entre as duas coisas, apenas coincidem no tempo) como o desemprego e a emigração dependem da economia, mas continuo sem perceber qual é a tua alternativa: não pagar a dívida ou não pagar a dívida (total ou parcialmente)?
(continua)

Henrique Pereira dos Santos disse...

Tu estás convencido de que gastando dinheiro público (por exemplo, pagando dois subsídios aos funcionários) o Estado vai receber, em impostos, mais do que pagou. Isso é simplesmente pensamento mágico, não tem a menor base matemática.
Eu sei qual é a lógica: as pessoas com mais rendimento consomem mais e portanto o Estado vai buscar impostos a essa actividade económica.
Vamos passar por cima do facto de isto não se passar assim (as pessoas com mais rendimento têm optado por poupar mais, e não gastar mais, por isso o rendimento caiu menos de um por cento (no relatório de hoje do INE até diz que aumentou) e o consumo caiu mais de 3%, porque a poupança aumentou mais de dois por cento) e centremo-nos apenas na matemática: o Estado paga-me mais cem euros. Vai logo buscar trinta em impostos. O meu rendimento aumentou 70 euros. Vou gastá-los seja no que for. O estado vai buscar 23% dos setenta em IVA. E daí para a frente, quaisquer que sejam os impostos, é sempre uma fracção do dinheiro posto s circular pelo Estado, pelo que, no fim, o Estado gastou mais que o que recebeu por ter gasto esses cem euros.
A única hipótese do estado receber mais é eu produzir e vender a outro cliente que não o estado. Então sim, o estado vai buscar uma fracção, mas como não gastou nada, tudo o que entrar é lucro.
Mas para isso é preciso que exista um cliente no fim cujo rendimento não depende do estado, essa é a questão central.
Se vier umsegundo resgate o problema resulta de não termos andado mais depressa na redução da despesa e na recuperação económica. Como a economia está numa cura de desintoxicação da dívida, a recuperação da economia passa essencialmente pelo mercado externo. O azar é que esses mercados estão em retracção, quer tenham quer não tenham políticas de austeridade (pergunta à Dilma).
E não se está a destruir economia nenhuma, está a destruir-se uma pequena parte da economia (entre 8 e 10%, quando na Islândia essa destruição foi de 15% e a diminuição do poder de compra rondou os 40%).
Os credores, ao contrário de ti, acham que Portugal vai pagar a sua dívida. E isso é bom.
A Alemanha (e toda a europa) foram ajudadas à saída de uma guerra, não foi depois de anos e anos dos contribuintes europeus terem despejado dinheiro sobre Portugal. E é isso que os chateia.
henrique

Miguel Oliveira e Silva disse...

Henrique,

Não concordo completamente com o ponto de partida que queres fixar. Não porque considere que, por exemplo, a Srª Merkel queira o nosso mal, mas sim porque considero que ela quer (legitimamente) primeiramente o bem dos Alemães (e uma coisa nem sempre implica a outra). Ou seja, o melhor para os Alemães não é necessariamente o melhor para nós (e vice-versa).
(Que bom seria se o bem individual fosse sempre o bem colectivo.)

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1) Sim tens razão quando dizes que não faz muito sentido que a receita diminui mais que despesa *só* por causa do corte da despesa (mas nota que eu não disse isso). Se à equação juntares, o aumento (brutal) de impostos, então na prática não só não consegues baixar a despesa (isso sim é pensamento mágico Gaspariano), como também baixas as receitas, e há o elevado risco de um elevado impacto na economia (fora do Estado).

Não julgo que a actividade económica tenha baixado *apenas* por se ter deixado de injectar 15 mme/ano, o aumento de impostos terá também um papel muito importante aí, assim como o ciclo vicioso de falências&desemprego.

2) Concordo (discordo é da forma e dos timings para o concretizar)

3) Não creio que isso esteja a acontecer em Portugal (+ austeridade => -défice).

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A minha "alternativa" não é não pagar a dívida (nem sequer não pagar os devidos juros), é sim (ao estilo dos SWAP) torná-los dinâmicos consoante o estado da economia do Estado (prestação+juros mais elevados quando o país cresce).
Não sou economista (sou Eng. Informático), mas parece-me que faz (pelo menos algum) sentido.

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Concordo com o teu raciocínio sobre os bons usos do investimento público (não vejo é em que é que ele contradiz o que tenho escrito como tu pareces me acusar).

O "bom" investimento público pode a prazo trazer mais receitas para o Estado (e ser um contra-peso importante em momentos de recessão).
O "mau" investimento público não trás mais receitas, apenas endivida e empobrece o país.
O "necessário" investimento público (saúde, educação, apoios sociais) pode não trazer mais receitas a curto prazo para o país (mas fá-lo-á a médio e longo prazo), mas é o que justifica a sua existência e faz com que a sociedade ser mais humanista (e pacifica).

-miguel

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
1) A questão é que quem vota no Governo Alemão são os alemães, e parece que eles não percebem por que razão devem pagar a idiotices que os portugueses fizeram com o dinheiro deles que foi cá metido;
2) Não sei onde foste buscar o menor indício de que o Gaspar acha que se pode baixar despesa aumentando impostos. Não só ele nunca disse nada que possa sustentar essa ideia completamente absurda (concordamos nesse ponto) como a sua prática foi sempre no sentido de preferencialmente baixar a despesa, em vez de aumentar os impostos. O facto do tribunal constitucional ter uma estranha ideia de como funciona o mundo é que obrigou Gaspar a aumentar os impostos, com efeitos recessivos muito maiores que os que resultariam do abaixamento dos rendimentos na função pública (para te dar uma ideia, no último trimestre, por causa da última decisão insensata do tribunal constitucional, os rendimentos no público subiram 2% no último trimestre, e desceram 1,7% no privado. Estranha noção de equidade esta.).
2) De qualquer maneira é evidente que é a retirada da economia dos 15 mil milhões que provoca esta situação toda. O que podemos discutir é como se faz essa retirada. De forma brusca, como estava em risco de acontecer, com suspensão de pagamentos por parte do Estado e falências em catadupa, de forma sustentada, como tenta fazer a troika, ao emprestar dinheiro para haver tempo para fazer o ajustamento, ou de forma mágica, com tens vindo a defender, que consiste em ajustar a despesa e a receita pelo lado do crescimento que não existe e que não se sabe como induzir, independentemente de não haver fórmula nenhuma em lado nenhum do mundo que garanta crescimento instantâneo.
3) Essa retirada não nenhuma opção política, resulta do facto de não haver quem nos empreste esse dinheiro porque andamos há vinte anos com este problema (enfim, primeiro não eram 15 mil milhões, mas nos últimos anos de Sócrates eram sempre 15 mil milhões ou mais) sem o querer resolver.
4) O ciclo vicioso de falências e desemprego resultam exactamente de se reduzir esse valor dos 15 mil milhões. Não so tendo, é evidente que empresas e empregos que dependiam desse fluxo financeiro (em português básico, défice anual que acumula dívida) acabam. Ou arranjas outro fluxo financeiro (por exemplo, arranjas clientes que tenham dinheiro e queiram os teus produtos) ou fechas a actividade. Simples bom senso.
5) Quando conheceres um financiador disponível para te emprestar dinheiro nas condições em que queres e a quem só pagas se tudo correr bem, avisa. Estou interessado em propor-lhe uns negócios.
6) A paz, o pão, a habitação, saúde, educação e o mais que queiras é óptimo. Mas alguém tem de produzir os recursos para isso, porque parece que os médicos (e os outros todos) não trabalham de borla. Não havendo recursos, como fazes?
7) Uma nota final sobre o sistema financeiro a que me tenho esquecido de responder: o dinheiro que estamos a pôr nos bancos é dinheiro que nos emprestam a 3,5% (mais ou menos) e que emprestamos entre 8 a 10% para que os bancos possam cumprir novas regras que os Estados lhes disseram que têm de cumprir. É um negócio da China para os Estados e os contribuintes.
henrique pereira dos santos

Miguel Oliveira e Silva disse...

1) A questão é que eu, como resposta a tu quereres assumir como ponto de partida que todos queremos o melhor para todos, te (tentei) explicar que isso não é bem assim já que nem sempre o melhor para uns é o melhor para outros (e para todos).

(Não vejo a relevância desta tua resposta para contrapor, ou concordar.)

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2) Onde é que eu disse que o Gaspar queria baixar despesa aumentando os impostos? (p.f. lê o que lá está escrito e não o que presumes ser a minha opinião.)

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Concordando-se ou discordando-se a Constituição continua a ser a Lei.
Dizer que a culpa do aumento de impostos é do TC... Enfim...

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Eu e a minha esposa somos FP (ambos professores) e o nosso rendimento baixou 10% de 2010 para 2011, 15% de 2011 para 2012 e mais vai baixar este ano. No meu vencimento mensal este ano estou a receber menos do que recebia no ano passado (e nota que os duodécimos do 13 mês estão lá incluídos incluídos), portanto, estamos conversados quanto a essa subida de rendimentos no sector público (colegas de curso meus que trabalham no privado não sofreram *de todo* o mesmo impacto [e eu absolutamente nada tenho contra isso, apenas me chateia um pouco essa conversa dos "privilegiados" dos FP]).

(BTW, as despesas com impostos acesso a serviços públicos como a saúde e a educação, água, luz, etc. subiram todos neste período).

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5) P.f. lê que eu escrevo e não me atribuas coisas que não digo.

Não é de todo emprestar dinheiro a "mim" (pessoa), nem sequer a "mim" (empresa), mas sim a "nós" (país).
Querer argumentar como se fosse tudo a mesma coisa inquina e torna inútil a discussão (se não percebes a diferença, mais não posso fazer para te explicar).

Os financiadores de que falo terão de ser necessariamente entidades como o FMI, BCE, CE (ou similares). Não é também para isso que elas existem?

-miguel

Miguel Oliveira e Silva disse...


7) Não sabia que os 8 (?) mil milhões de euros colocados pela Estado no BPN, e agora na Parvalorem [curioso nome!] (para dar apenas um dos piores exemplos), eram um negócio da china para os contribuintes!

(Estamos sempre a aprender.)


-miguel

Anónimo disse...

Apesar de todo o palanfrório de 10 – sim, 10 posts -, a verborreia ridícula do HPS diz mais por aquilo que não diz, do que pelo mau latim gasto para ocultar o falhanço da austeridade, e transformá-la na panaceia milagreira dos cegos de espírito.

Ao fazer todas as mistificações a que levianamente se entrega, o Henrique Pereira dos Santos tornou-se um dos carrascos da economia e do futuro de Portugal. Para que conste.

An austerity budget is premised on the idea that government deficits can be eliminated by cutting spending, reducing benefits, and limiting public services. Many leading economists, however, argue that austerity measures actually have the opposite effect. That’s been the experience in countries including Britain, Italy, and Spain.
Paul Krugman

Why Austerity Is a Dangerous Idea
When everyone tries it at once, austerity makes the debt bigger, not smaller
http://ideas.time.com/2013/04/18/why-austerity-is-a-dangerous-idea/

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
1) O bem colectivo é uma abstracção que se concretiza, através dos processos democráticos, dizendo cada um o que entende por bem colectivo. Ora os alemães acham que o bem colectivo é nós não fazermos as parvoíces que fizemos quando eles nos puseram dinheiro na mão.
2) Tens razão, li mal a tua frase sobre o pensamento mágico do Gaspar e na realidade a resposta era bastante mais simples: a despesa, sobrtudo se considerada sem juros, tem vindo a descer de forma muito importante.
3) Que a Constituição é a lei, sei eu. Que a interpretação que dela faz o tribunal constitucional é a legítima, também sei. Que nem por isso tenha deixado de ser insensata e estúpida, com resultados perversos para todos, em especial na destruição de emprego, também não tenho a menor dúvida (como sabes, aumento de despesa do Estado faz-se com mais impostos, o que tem um efeito recessivo na economia, levando as empresas a ajustar-se ou a falir, criando desemprego).
4) Miguel, como sabes tu és uma minoria na administração pública. É verdade que os professores universitários e os professores não universitários mas de escalões mais altos são dos mais perderam rendimentos. A alternativa (que sempre defendi e que é muito mais virtuosa, social e economicamente) é o Estado ajustar despedindo, o que já devia ter começado a fazer há dez anos. Talvez assim hoje não fosse preciso cortar o rendimento dos escaloões mais altos da administração desta maneira. E olha que os teus colegas do privado ajustarem muito mais, seja pro via do desemprego, seja por via da redução de rendimentos e regalias. Em termos gerais, claro, individualmente as coisas não são bem assim. Por exemplo, o Ulrich (e a generalidade dos banqueiros) recebem actualmente 50% do que recebiam antes, mas há muitas outras pessoas a receber mais que o que recebiam antes.
5) O BCE está proibido de financiar directamente os Estados, e o FMI está obrigado a remunerar o dinheiro que empresta (embora a valores mais baixos que os do mercado) exactamente porque não é para isso que existem: os eleitorados de muitos países não estão interessados em criar as condições para que o dinheiro dessas instituições (que vem dos impostos das pessos comuns) sirva para pagar erros de gestão para os quais essas pessoas não contribuíram porque não lhes é permitido votar nesses países. Portanto só em circunstâncias excepcionais essas instituições emprestam, quando os países não têm acesso ao mercado. Mas evidentemente só emprestam em condições que permitam garantir que voltam a ver a cor do dinheiro.
6) Eu sabia que virias falar do BPN, mas o assunto do BPN não tem nenhuma relação com as ajudas à banca. O BPN era um caso de polícia, que o Estado resolveu transformar num problema dos contribuintes nacionalizando o banco e gerindo-o pessimamente (a maior parte do dinheiro que os contribuintes irão meter ou já meteram no BPN resulta do período após nacionalização). Isso não tem nenhuma relação com os outros processos de capitalização da banca. Já agora, ainda ninguém sabe quanto vai custar aos contribuintes porque ninguém sabe quanto se vai conseguir recuperar com os activos que ainda falta vender.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Isto parece a conversa do ovo e da galinha (o que veio primeiro?) mas que questão de fundo é outra: A Europa que queremos e o desenho da moeda única. O que se está a passar em Portugal, além dos óbvios desafios estruturais que temos (e que sempre tivémos), tem a ver com a perda de mecanismos de controle financeiro (essencialmente, desconectámos a máquina de fazer dinheiro) e com o facto de a união monetária ter ficado incompleta. Portugal não sairá deste barco recessivo nem com as receitas que o Henrique preconiza (que não são mais do que uma repetição do que diz o Gaspar e que está a conduzir a uma fuga de talentos sem precedentes na nossa história) nem com a propaganda expansionista que o PS faz em período pré-eleitoral (que é exactamente a mesma propaganda que o PSD fazia na sua campanha). O que está em causa é política a outro nível (infelizmente um nível onde temos pouco a dizer por enquanto): ou a Europa decide que quer avançar no sentido de mais integração e reforça os mecanismos de coesão (onde se prevêm mecanismos de solidariedade e controlo para fazer face a situações como esta) ou teremos que voltar a ganhar controlo sobre a nossa política financeira.

Tudo o resto é gritaria de comadres que, como diz o ditado, não chega a parte alguma: "em casa ou não há pão todos ralham e ninguém tem razão."

Sinto o cinismo mas não vejo soluções se perspectivadas apenas ao nível da gestão da mercearia.

Henrique Pereira dos Santos disse...

O que está em causa é uma fractura entre os que acham que os problemas só se resolvem com o dinheiro e a vontade dos outros e os que acham que independentemente de quais sejam as opções possíveis, o esforço próprio é onde é útil pôr os recursos e a energia que existam.
A solução estará, provavelmente, numa qualquer combinação de esforço próprio e vontade e dinheiro dos outros.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

Pois, o problema é que o discurso moralista (o conto da formiga e da cigarra, i.e., os trabalhadores do norte subsidiarem os preguiçosos do sul) é um discurso envenenado que em vez de resolver o problema o agrava. Pergunta lá às centenas de milhar de Portugueses que emigram (e muitos mais dos que ficam) se o problema é eles não se quererem esforçar.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Mas qual discurso moralista? Tu achas que não podemos fazer nada e temos de esperar pela vontade e dinheiro europeus, eu acho que temos de fazer o que podermos fazer, independentemente do que possa ser a vontade dos outros.
Onde está o discurso moralista?
Só se por discurso moralista estiveres a referir-te a essa conversa da emigração, mas nesse caso discordo de ti, não é um discurso moralista, é só uma história da coitadinha da tísica, sem qualquer interesse.
Tu próprio és um emigrante, penso que com vantagem para ti, eu tenho filhos e sobrinhos emigrantes, os meus pais, irmãos, tios e primos e muitos outros lá para trás eram emigrantes e o maior período de crescimento económico de Portugal nos últimos duzentos anos coincide com o maior fluxo emigrante que houve em Portugal (insisto, não há nenhuma relação entre esse crescimento económico e o surto emigrante, apenas coincidem no tempo).
E daí?
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

O discurso moralista está em insistir que o problema tem a ver com os preguiçosos do sul que não querem trabalhar e que estes o que querem é que venham os do norte resolver-lhes o problema subsidiando a sua boa vida ao sol. Quando colocas o problema nestes moldes estás a criar, através da tua escolha de palavras (os que acham que o problema se resolve com o dinheiro dos outros vs. os que acham que se resolve com esforço próprio), uma fratura que não tem necessariamente que corresponder à realidade (essa é muito mais complexa e pouco atreita a simplificaç4oes demagógicas) mas que coincide com uma conveniente retórica Calvinista de uma certa classe política na metade norte da Europa. É o discurso oposto ao discurso também moralista, tão em voga pelas nossas paragens, que os do norte (particularmente os alemães) são uns malandros egoístas que não querem ajudar os do sul depois de se terem beneficiado destes nos tempos das vacas gord@s. Quando o debate se põe nestes termos e se mantém assim durante muito tempo não há saída, em termos históricos, a não ser a porrada. O problema é que já conhecemos estas linhas de argumentação e já sabemos onde nos levaram no passado. Parece-me lamentável, no século 21, sabendo o que sabemos, continuarmos a ver pessoas inteligentes a bater na mesma tecla.

Miguel B. Araujo disse...

Quanto aos emigrantes não é moralismo, é estupidez mesmo. A perda de talentos é um problema para o país, não para os talentos.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Alguma vez me viste colocar o problema nesses termos?
Viste sim referir factos relevantes: durante anos os contribuintes líquidos da UE despejaram dinheiro sobre os países mais pobres, e muitos deles usaram muito mal esse dinheiro, como é o caso de Portugal.
E vês-me sim referir a percepção da opinião pública desses países, que vai nesse sentido, ignorar essa percepção (do meu ponto de vista errada, mas isso é irrelevante) é um erro de palmatória.
Agora o teu argumento foi, sem tirar nem pôr, as soluções para isto são europeias e nós podemos fazer muito pouco nessa matéria. Quem pôs o problema assim foste tu. O que eu digo é que independentemente disso, temos de fazer a nossa parte de correcção dos erros que cometemos enquanto sociedade (e sim, são erros nossos, independentemente de terem sido agravados por condições externas num determinado momento).
E, coisa que te recusas a reconhecer, o nosso esforço está a dar resultados. A um custo alto, mas resultados bem concretos.
Não tenho nenhuma ideia que o facto de teres emigrado tenha sido uma perda para Portugal. Não porque não faças cá falta, mas porque o facto de teres emigrado não te impede de dar contributos muito importantes ao país que nunca darias se não tivesses emigrado.
henrique pereira dos santos

Miguel B. Araujo disse...

As nossas conversas sobre este tema já são velhas e sim tenho visto encarnares a opinião pública desses países (ler países do norte). Uma coisa é reconhecer que essas perspetivas existem e condicionam as decisões dos governantes do norte (até aí consigo ir camarada), outra é adotar o mesmo discurso. Um discurso, quanto a mim, errado, simplista e parcial.

Quanto ao meu argumento, o que lá está isto: "O que se está a passar em Portugal, além dos óbvios desafios estruturais que temos (e que sempre tivémos), tem a ver com a perda de mecanismos de controle financeiro (essencialmente, desconectámos a máquina de fazer dinheiro) e com o facto de a união monetária ter ficado incompleta."

Como poderás ler, tive o cuidado de referir os desafios estruturais. Acontece que estes desafios estruturais são velhos (essencialmente continuamos a ser um país com mentalidade extrativa mas com o problema e já não termos acesso a recursos naturais baratos) e não se resolvem facilmente, muito menos num quadro recessivo onde a massa crítica se esvai a olhos vistos.

A balança comercial está melhorar? Sim, esse indicador é positivo e ainda bem (nunca o neguei como afirmas). Mas há outros que são negativos. O que mais me preocupa é a sangria de quadros qualificados. A massa crítica de um país tarda em construir-se (3-4 décadas no nosso caso) e pode perder-se em menos de 10 anos. O que está a acontecer é a sangria dessa massa crítica, especialmente nas camadas mais jovens. Em que medida isto comprometerá as opções de desenvolvimento quando os indicadores económicos melhorarem? Ou melhor, em que medida é estes fluxos migratórios impedirão a recuperação económica quando a conjuntura melhorar? Respostas não há. O que há é navegação à vista.

Há uns anos trabalhei com gente que fazia projeções demográficas para a Europa (antes da crise) e os mapas que eles produziam mostravam uma redução e envelhecimento da população em vários países de leste (Roménia, Bulgária, Ucrânia, etc), uma tendência para a estabilização em alguns países do sul com aumento ligeiro noutros, e aumentos assinaláveis em países do centro da Europa como o Reino Unido, França e Alemanha. esses mapas eram o reflexo do dinamismo económico dos países e neste momento estamos a aproximar-nos dos cenários previstos para os países mais deprimidos da Europa de leste.

É inevitável? Haveria forma controlar este fenómeno? Não sei mas tenho em crer que os cortes cegos, desprovidos de visão estratégica, não ajudam.

Henk Feith disse...

Caros,

Tenho seguido a vossa troca de argumentos com atenção e tenho aprendido muito com isso.

Gostava só de colocar uma questão ao Miguel no que diz respeito ao braindrain que menciona. Esta questão é normalmente referida no sentido da saída de talentos. E os ingressos? Se a saída é (supostamente) prejudicial para Portugal, o ingresso há de ser benéfico, certo? É sabido que tem havido um influx muito grande de pessoas qualificadas oriundas de Europa (sobretudo de Leste) nas últimas duas décadas. O mesmo se verificou com o Brasil. Sem querer classificar-me como um talento, vim cá para Portugal trabalhar (a custo zero para o Estado Português, agora já). E então qual é o balanço.

Não será que os fluxos de talentos são sobretudo resultado das oportunidades de trabalho? Não é de esperar que este fluxo se inverte logo haja condições de trabalho cá em Portugal, sejam imigrantes portugueses a regressar ou estrangeiros a procurar oportunidades cá? Não é de supor que a economia terá os talentos que precisa, conforme o seu crescimento e capacidade de criação de riqueza. Ou queremos "garantir" lugares de trabalho para talentos que o País não consegue pagar?

E, nesta perspetiva, porque haveria de demorar 3-4 décadas de recuperar os talentos que o País precisa? Não será isto uma visão desligada da realidade atual de fluxos internacionais de mão de obra, resultado de uma política de abertura de fronteiras inédita na história da humanidade?

Um abraço,

Henk Feith

Miguel B. Araujo disse...

Henk, Eu não distingo talentos pela nacionalidade mas a melhor forma de atrair talentos é já ter um pool de talentos in sito. A alternativa, mais cara e mais difícil de manter no longo prazo, é com jorros de dinheiro. Acontece que as situações onde há jorros de dinheiro e falta de talento estão frequentemente associados e economias que vivem da extração de recursos valiosos, como sejam o petróleo e os diamantes. Não é o nosso caso e o nosso recurso mais valioso continua a ser o recurso humano.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Miguel,
Podes ter lido argumentos morais semelhantes às opiniões públicas desses países, mas foste tu que os leste, não fui com certeza eu que os escrevi.
O que podes criticar, e é uma crítica justa, é que sendo o problema em grande parte europeu, eu digo muito pouco sobre esse nível do problema.
Há duas razões para isso: 1) a ignorância, sei muito pouco sobre esse nível do problema par ao poder discutir consistentemente; 2) o que me interessa é o que podemos fazer, e não tanto o bom que seria as condições serem outras.
Quanto ao resto.
a) O maior problema (ou pelo menos o mais urgente) era o facto da economia portuguesa precisar anualmente de 15 mil milhões de euro a acrescentar a dívida que já tinha (num dos anos chegou aos vinte mil milhões). Hoje a economia portuguesa liberta recursos financeiros. Este era o problema central a resolver, está, para já, resolvido. E este era o verdadeiro problema estrutural;
b) Ao contrário do que dizes foi possível resolver esse problema estrutural (velho, como dizes) num quadro recessivo (aliás contribuiu para isso ao diminuir o consumo e, consequentemente, a importação e ao estimular a poupança, cuja taxa praticamente duplicou);
c) Não subscrevo a tua ideia de que a massa crítica do país se está a esvair. Não vejo a empresas a deslocalizar (vejo-as sim a exportar, mas mantendo o núcleo duro em Portugal), não vejo o capital a sair excessivamente (ao contrário da Grécia), vejo o retorno, lento, mas retorno do investimento estrangeiro (por enquanto mais financeiro que outro, infelizmente) e vejo de facto muita gente a sair que, por não ter emprego, não ficaria em Portugal a fazer nada. Parte importante dessa gente voltará, de forma quase instantânea, se as condições melhorarem e, provavelmente, voltará muito melhor que saiu: com uma visão mais cosmopolita do mundo, com maior capacidade e, provavelmente, mais capitalizada e experimentada. E enquanto estão fora são muito úteis ao país, alargando mercados e repatriando capitais. Não confundas os laboratórios de ciência com o país.
d) Já repeti, e repetirei vezes sem conta, que o período de maior emigração do país corresponde também ao seu maior período de crescimento económico (os dois factos não estão relacionados, apenas ocorrem no mesmo momento, mas demonstra que não há perda de capacidade do país com a emigração).
henrique pereira dos santos

Anónimo disse...

Caro Henk,

A história da imigração em Portugal não poderia ser mais negativa;de um país pobre e homogeneo (um valor em si), transformámo-nos num país pobre e multiétnico. Para os imigrantes qualificados (Ucranianos, Russos, Moldavos etç..) Portugal era apenas uma etapa antes do Canadá, EUA, Alemanha, etç... Os outros (Africanos, Sul-americanos), com ainda menos habilitações do que os Portugueses, não querem, infelizmente, ir-se embora. É, no fundo, a mesma asneira do século XVI, expulsámos os Judeus e importámos Africanos. Quanto ao resto, Bruma é um excelente jogador Guineense e os golos dele também...

Anónimo disse...

Mais um link para ver se o Henrique Pereira dos Santos – e apaniguados - aprendem qualquer coisinha de economia, de ciência política e de austeridade.

Mas a coisa não está a ser fácil. As ideias feitas e o fala-barato é muito mais fácil que a análise, o estudo, e a reflexão crítica.
Há casos perdidos para a medicina,para a economia e para a decência...

How Austerity Has Failed
Martin Wolf

Martin Wolf is Chief Economics Commentator of the Financial Times. His article in this issue is an expanded version of a talk given at a symposium in Oxford sponsored by The New York Review and St. Antony’s College, and then posted on the Financial Times website. (July 2013)

http://www.nybooks.com/articles/archives/2013/jul/11/how-austerity-has-failed/?utm_medium=email&utm_campaign=June+25+2013&utm_content=June+25+2013+CID_1fa6dfbd59a84c24cc09dce31585ef97&utm_source=Email+marketing+software&utm_term=How+Austerity+Has+Failed

Anónimo disse...

Henrique, é uma matéria complexa, mas a avaliar aqui pelo meu Minho que está há imensos dias a levar com vento quente e seco de quadrantes de leste, é apenas uma questão de tempo.
Mas olhando para fora, percebe-se que ainda está tudo muito verde, e muita humidade retida que lá vai aguentando, choveu muito este Inverno. Estas coisas tem muitas variáveis, e além das variáveis, é por vezes difícil de perceber quando ocorre a ruptura duma delas, em que tudo subitamente se precipita.