sexta-feira, agosto 30, 2013

Um texto execrável


 
Há bastante tempo que deixei de me interessar pelo que escreve habitualmente Viriato Soromenho Marques no Diário de Notícias.

Mas desta vez resolvi interessar-me porque várias pessoas, cuja opinião prezo e considero, me remeteram um texto sobre fogos, acompanhado de grandes elogios.

Ora eu acho esse texto verdadeiramente execrável.

Como esta é uma crítica bastante violenta, passo a tentar fundamentá-la.

Passo por cima dos primeiros parágrafos, que não acrescentam nem atrasam (são uma visão ligeirinha e pouco fundamentada da história do movimento ambientalista, passando por cima de todo o trabalho da escola de arquitectura paisagista e dos florestais, por exemplo, em matéria de políticas públicas de ordenamento do território) e centro-me no que realmente conta.

“As reportagens televisivas mostram-nos, sistematicamente, bombeiros e populações cercados por eucaliptos em chamas.”

Confesso, já o disse noutro contexto, que discutir fogos a partir do que aparece na televisão é como discutir física quântica a partir dos livros do Tio Patinhas. Mas independentemente disso, não é simplesmente verdade que as imagens dos fogos sejam bombeiros e populações cercadas por eucaliptos em chamas. A grande maioria dos fogos nem sequer é em povoamentos florestais. E quando são, não são sistematicamente eucaliptos, variam de região para região.

“Chegado a Portugal em 1829, esta espécie exótica ocupa agora 26% do espaço florestal, e é o grande combustível dos incêndios florestais.”

VSM diz-nos aqui que 74% do espaço florestal não é eucalipto, mas que o eucalipto é o grande combustível dos incêndios florestais.

Se isso for verdade, os dados indicarão uma profunda relação positiva na sobreposição das áreas ardidas e nas áreas de eucalipto e, para além disso, as áreas de eucalipto seriam a maioria das áreas ardidas.

Ora, nada disso é verdade. Não só as áreas ardidas tem uma distribuição muito diferente da área de eucalipto, como a maioria do que arde são matos, e ainda é preciso juntar as outras espécies florestais, nomeadamente o pinheiro.

Factualmente VSM está errado neste ponto central da sua argumentação.

Mas isto não me faria escrever este texto: VSM não estuda fogos, não se informa, enquanto responsável pelo Programa Gulbenkian de Ambiente nunca ninguém lhe conheceu um especial interesse na matéria, nem contributo para resolver o problema, é pois natural que diga coisas erradas sobre um assunto que desconhece.

Um direito que nos assiste a todos é o direito à asneira e apesar do tamanho da asneira não me parece que se justificasse perder tempo a corrigi-la, tanto mais que são frequentes as pessoas que fazem questão em impedir que os factos influenciem as suas ideias.

“Quando vejo ministros, com ar pesaroso, lamentarem a morte dos bombeiros, apetece-me perguntar-lhes: "Onde estavam os senhores no dia 19 de Julho de 2013?". Nesse dia foi aprovado, em Conselho de Ministros, o ignóbil Decreto-Lei n.º96/2013, que, debaixo da habitual linguagem tabeliónica usada para disfarce, estimula ainda mais a expansão caótica da plantação de eucaliptos, aumentando o risco de incêndio, e fazendo dos bombeiros vítimas duma política de terra queimada ao serviço dos poderosos.”

É aqui que o caldo se entorna, quando Viriato Soromenho Marques, com sólida formação em filosofia, resolver usar o argumento que já Daniel Deusdado tinha usado nesta matéria: existe uma relação entre os fogos de Agosto e uma lei florestal de Julho. Curiosamente nem se dão conta de que ao defender o status quo anterior, estão a defender a circunstância legal em que se desenvolveram os actuais fogos.

Uma tal barbaridade já não pode ser simplesmente atribuída à falta de conhecimento do assunto, é mesmo pretender torturar os factos até que digam o que se pretende.

E é essa voluntária vontade (passe o pleonasmo) de contrabandear factos para os pôr ao serviço de uma tese pré-definida que torna toda este texto particularmente podre, em especial tendo em atenção na forma como é concluído.

Eu teria vergonha de usar a morte de terceiros, em especial nestas circunstâncias, para procurar ter ganho de causa numa discussão política, mesmo que com base em factos solidamente irrefutáveis.

Pelos vistos Viriato Soromenho Marques não tem essa vergonha, nem mesmo quando usa argumentos factualmente falsos.

Viriato Soromenho Marques tem todo o direito de ser contra a exploração de eucalipto em Portugal.

Já é mais duvidoso que tenha o direito de associar a exploração de eucalipto apenas ao interesse dos poderosos, esquecendo que dos 750 mil hectares de eucalipto, apenas 150 mil são geridos pelas celuloses, sendo a grande maioria dos outros 600 mil de pequenos proprietários.

E esquecendo toda a riqueza criada, incluindo o emprego associado, como se fosse irrelevante para o país prescindir de uma das suas fileiras florestais mais competitivas internacionalmente.

E mais do que isso, VSM esquece que em muitas áreas de produção de eucalipto a alternativa à sua exploração é o abandono, potenciador de fogos mais severos e extensos.

Mas tudo isso cabe na discussão política, por pobres que sejam os argumentos de Viriato Soromenho Marques, neste caso.

O que eu não aceito, o que acho mesmo execrável, é que Viriato Soromenho Marques conte uma história da carochinha sobre a relação entre a produção de eucalipto e os fogos, usando a morte de bombeiros a favor do seu argumento político.

Este aspecto em concreto torna o texto verdadeiramente execrável.
henrique pereira dos santos

25 comentários:

ngg disse...

Apenas fico admirado com a surpresa que, não sendo explícita, transparece nas palavras do Henrique. Este é um discurso de intervenção política, que não é diferente de outros (proferidos por outros políticos, noutros domínios). É uma mistura barbaridades, não justificáveis por desconhecimento (mesmo vindas de um não perito), com outros considerandos de má índole. Os discursos populistas, provenientes dos mais diversos quadrantes, que centram os incêndios na área ocupada por eucaliptos, nos incendiários e no negócio dos aviões desresponsabiliza os verdadeiros agentes (o ICNF mantém um silêncio sepulcral), direccionando a culpa para qualquer coisa que se situe entre a demência e os grandes poderes económicos. Milhares de páginas foram escritas entre relatórios, livros e artigos (científicos ou de opinião) que analisam e modelam criteriosamente o actual regime de incêndios. Mas o discurso que chega às massas continua o mesmo. Este discurso só é possível num país composto por pessoas que age em rebanho, não questiona e nem tem curiosidade suficiente para rastrear a informação (e certamente uma grande "fatia" destes tem um telemóvel xpto com ligação à net). Se passarem os olhos pelos comentários a notícias ou opiniões que surgem diariamente em blogs e jornais online poderão ver dezenas de frases a clamar justiça popular para os incendiários. Isto tem ainda outro efeito perverso, ao fazer dos bombeiros heróis nacionais e dos que infelizmente faleceram em mártires. Aumenta-se a probabilidade de erro, e desta forma ninguém questiona o comando, a coordenação, a análise que precedeu os acontecimentos e os procedimentos no teatro de operações. Assim, ninguém questiona a falta de civismo associada a algumas das ignições. Assim não se introduzem discursos sobre a dispersão da edificação pouco compreensíveis para a população num reino onde o direito de propriedade se confunde com outros direitos. Assim não se fala em abandono rural, cabras e heterogeneidade da paisagem, pois o que a malta quer é ter um "lugar ao Sol" num bom escritório com horário das 9h às 17h. São estes o custos da suburbanidade onde as sanguessugas políticas se movem.

Anónimo disse...

Mais um texto abominável do Henrique Pereira dos Santos

O «contabilista-paisagista» Henrique Pereira dos Santos escreve mais um texto abominável, daqueles que só ele sabe escrever, com a tradicional ignorância dos atrevidos, contestando as palavras de Viriato Soromenho Marques mas sem apresentar quaisquer argumentos científicos que possam servir de fundamento à sua resposta, fazendo-se até passar por «amigo da natureza« (!!!), quando se sabe bem que o que lhe tolda a cabeça são os números dos mercados.

Ou seja, contesta por contestar, só por mania de contradição, recorrendo como sempre à sua retórica barata, sem nunca apresentar dados e factos comprovados.

Lamentável.

Para mais informação sobre os efeitos catastróficos da eucaliptização:
http://www.greenpeace.org/espana/es/Trabajamos-en/Bosques/Plantaciones-de-eucalipto-Espana-y-Portugal/

Anónimo disse...

O autor deste último comentário é mais um dos que pertence aos tais rebanhos. Não tem capacidade critica e não consegue filtrar informação. O link que coloca para além de ser doutro pais e da organização que todos conhecemos pelas suas ideiais radicais.

Neste último ano tenho estado atento as noticias e qual o meu espanto que já vi mais áreas de pinheiros ardidas do que eucaliptos!!

Uma vez que todos detestam o eucalipto, já imaginaram como seria o pais (emprego e economia) sem esta arvore?

Estes radicalistas sem formação cientifica na área das ciências da vida pensam que a natureza foi criada por DEUS e é intocável! Por favor, vão cultivar (-se) !!

DR

Anónimo disse...

Na falta de argumentos – e de inteligência -, e em desespero de causa, os mesmos de sempre, os Henriques Pereiras dos Santos deste mundo auto-comprazem-se em imaginar conspirações e radicalismos para esconder a sua ignorância envergonhada.

E como não têm formação em coisa alguma – desde as ciências da vida até às ciências sociais – o que fazem é apenas mirar o mundo com os seus olhos de espantalhos vivos.

E o que vêem?
Vêem áreas de pinheiros ardidas, mais do que eucaliptos – dizem eles.
E ficam todos contentinhos com a confissão pública da sua própria ignorância


Nota. Indiscutivelmente para todos os Henriques Pereiras dos Santos – os genuínos e as fotocópias – a Greenpeace é uma organização terrorista e radical, extremamente perigosa para a falsa realidade produzida pela mentalidade contabilístico-paisagista desses sujeitos-zombies.

ngg disse...

Aconselho vivamente ao Sr. Anónimo a leitura dos seguintes artigos:

Moreira, F., Vaz, P.,Catry, F., Silva, J.S., 2009. Regional variations in wildfire susceptibility of land-cover
types in Portugal: implications for landscape management to minimize fire hazard. International Journal ofWildland Fire 18: 563–574.

Nunes, M.C.S., Vasconcelos, M.J., Pereira, J.M.C., Dasgupta, N., Alldredge, R.J., Rego, F.C.,2005. Land cover type and fire in Portugal: do fires burn land cover selectively? Landscape Ecology 20: 661–673.

Silva, J.S., Moreira, F., Vaz, P., Catry, F., Godinho-Ferreira, P., 2009. Assessing the relative fire proneness of different forest types
in Portugal. Plant Biosystems 143(3): 597–608.

Silva, J.S., Vaz, P., Moreira, F., Catry, F., Rego, F.C., 2011. Wildfires as a major driver of landscape dynamics in three
fire-prone areas of Portugal. Landscape and Urban Planning 101: 349–358.

Leia atentamente para saber como foram determinados os rankings, para evitar juízos de valor desnecessários e contra-argumentar com critérios sérios.

Com os melhores cumprimentos

Unknown disse...

" O «contabilista-paisagista» Henrique Pereira dos Santos escreve mais um texto abominável, daqueles que só ele sabe escrever, com a tradicional ignorância dos atrevidos, contestando as palavras de Viriato Soromenho Marques mas sem apresentar quaisquer argumentos científicos que possam servir de fundamento à sua resposta "
Caro anónimo: também a mim e falta formação " desde as ciências da vida até às ciências sociais". A minha ignorância vai a tal ponto que não sei sequer de que ciência faz parte o tema em debate, veja lá. Infelizmente a minha ignorância não é grande o suficiente para me permitir o luxo do sossego que só a completa ignorância permite. Junte a isso o facto de todos os anos ter os incêndios à distância de um olhar e compreenderá o que me traz por aqui: a vontade de perceber porque raio de carga de água os incêndios são uma fatalidade? Não é tarefa fácil para um leigo como eu, pouco mais longe fui que perceber que são muitos e variados os factores volvidos e não apenas o cigarro atirado pela janela ou o vento abrasador que nos chega de leste. Ainda assim vale a pena, quanto mais não seja porque tenho tomado o pulso à minha ignorância, o que me parece ser o caminho indicado para quem quer aprender.
Vem isto a propósito da sua intervenção nesta discussão: acredito que seja verdade tudo o que diz. Também acredito que nada seja verdade. Admito todas as hipóteses, estou pronto até a acreditar que a sua voz é a voz de Deus. Com uma condição: terá de justificar o que afirma ou, pelo menos, tentar. Assim, sem mais, só porque sim não conseguirá fazer-me ver o valor dos seus argumentos - palavra que uso à falta de outra já que argumento sério, de verdade, ainda não o vi apresentar nenhum. O que é uma pena para quem, como eu, gosta de aprender.

Anónimo disse...

Dor de cotovelo por alguém conseguir ser mais populista do que você, ter mais leitores, e conseguir mais assessorias?

Esta sua análise está perto da que costuma provocar noutros, com as suas recorrentes manipulações de argumentos, incitações e achincalhamentos.

O homem que provavelmente tem a posição mais bem paga do movimento ambientalista português sistematicamente a fazer-se de um outsider ignorado a gritar verdades que ninguém quer ouvir.

Tem a sua piada. Mas mantém-se fiel a si próprio na falta de modos. E claro, ia refutar os escritos do Viriato com factos mas ficou-se pelos insultos. Provavelmente merecidos, mas o Henrique a fazer-se de indignado tem a sua piada.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Para o último anónimo (obrigado aos outros que têm entrado na discussão com argumentos e olá para o terno seguidor mais fiel).
Os argumentos estão no texto (não é verdade que haja qualquer relação entre a presença de eucalipto e as áreas ardidas, a que simpaticamente alguém juntou um conjunto de referências bibliográficas para demonstrar o argumento que é do conhecimento comum de quem quer que se debruce sobre o assunto).
Mas é natural que preocupado como parece estar com questões pessoais de terceiros, tenha dificuldade em ler a substância dos textos.
Eu não estou indignado com nada que me diga directamente respeito, estou indignado (peço desculpa de não lhe pedir autorização para escolher as minhas indignações, mas se assinar o que escreve para a próxima tento perguntar-lhe primeiro o que devo sentir perante qualquer coisa) com a instrumentalização da morte de terceiros para dar força a um texto de argumentação política cuja única relação com essas mortes é uma falsidade imensa e conhecida de toda a gente.
De qualquer maneira não pense que me vai pôr aqui a discutir quem é o ambientalista mais bem pago do país porque estou-me nas tintas para o que ganha ou deixa de ganhar cada um. Mais, se o Viriato ganhar mais do que eu (é muito improvável que não ganhe mais que eu) devo dizer que até acho bastante razoável porque é muito melhor que eu em muitas coisas e, também por isso, muito mais útil que eu a quem lhe paga.
Nesta matéria em concreto provavelmente sabe muito menos que eu mas isso não me parece que tira nem ponha para a situação remuneratória relativa de nós dois.
Água das pedras não é mau para a azia, chás há vários e da próxima traga argumentos, vai ver que a vida é muito mais interessante quando olhamos para as ideias que para as pessoas, como neste caso em que critico um texto execrável, não chamo execrável ao Viriato (poderia chamar se achasse isso, mas não acho que o Viriato seja execrável, bem pelo contrário, é uma pessoa estimável de que discordo muitas vezes, quer na substância, quer na forma como defende essa substância, como é o caso deste texto).
henrique pereira dos santos

ngg disse...

Caro Anónimo,

algumas das referências que envia não são mais do que profissões de fé que nada têm de científico. E não dão qualquer resposta aos elementos que colocou em dúvida. No que respeita ao que mais arde em Portugal coloquei alguns dos trabalhos que evidenciam que está enganado (são trabalhos objectivos, científicos, arbitrados e publicados em revistas insuspeitas). Ninguém disse que os eucaliptos não são susceptíveis, não foi essa a questão que levantou. Se evidenciasse o aumento da perigosidade com o aumento da continuidade horizontal dos combustíveis promovida por extensas plantações eu concordaria consigo. Mais, se evidenciasse preocupação pelo abandono das áreas plantadas sem reconversão dos mesmo, eu também concordaria consigo. Este último aspecto é evidente nas conclusões de um dos dois artigos (as únicas referências que considero objectivas) que enviou:
"A worst case scenario would be if Eucalyptus plantations are abandoned fromactivemanagement due to changing market conditions or other factors."
De facto se os autores dos artigos que enviei anteriormente tivessem separado as áreas geridas pelas celuloses das outras, obteriam diferentes valores de susceptibilidade para a mesma espécie, por força da gestão activa que fazem nos seus povoamentos.

No que respeita ao outro (insuspeito) artigo, "Assessing the Invasion Risk of Eucalyptus in the United States Using the Australian Weed Risk Assessment", o potencial invasivo pode manifestar-se em plantações abandonadas (mais susceptíveis a incêndios do que as que têm gestão activa) em locais com alguma humidade edáfica e com baixa ocorrência de geada. Mais preocupantes e difíceis de controlar são as acácias e o ailanthus (e ainda a hackea, mas esta poderia ter resolução mais simples do que as outras, uma vez que tem banco de sementes aéreo) e vejo poucos a preocuparem-se com elas.

Os problemas surgem essencialmente da falta de gestão e abandono (não só agrícola) das terras.

Para algumas questões sobre (bio)diversidade (estudos efectuados em Portugal), poderá consultar:

Barrocas, H.M., da Gama, M.M., Sousa, J.P., Ferreira, C.S., 1998. Impact of reafforestation with
Eucalyptus globulus Labill.
on the edaphic collembolan fauna
of Serra de Monchique
(Algarve, Portugal). Miscellania Zoologica 21(2): 9-23.

Carneiro, M., Fabião, A., Martins, M.C., Cerveira, C., Santos, C., Nogueira, C., Lousã, M., Hilário, L., Fabião, A., Abrantes, M., Madeira, M., 2007. Species richness and biomass of understory vegetation in a Eucalyptus globulus Labill. coppice as affected by slash management. Eur J Forest Res 126: 475–480

Carneiro, M., Serrão, V., Fabião, A., Madeira, M., Balsemão, I., Hilário, L., 2009. Does harvest residue management influence biomass and nutrient
accumulation in understory vegetation of Eucalyptus globulus Labill. plantations in a Mediterranean environment? Forest Ecology and Management 257: 527–535.

Com os melhores cumprimentos

Anónimo disse...

Vamos por partes:

A) «algumas das referências que envia não são mais do que profissões de fé que nada têm de científico»

Comentário:
Posso dar de barato que algumas afirmações minhas são profissões de fé – o que, no entanto, não dou por certo - mas então quem é campeão nessa religiosidade cognitiva é o Henrique Pereira dos Santos que se permitiu contestar por contestar um texto do Viriato Soromenho Marques reproduzindo e alimentando as profissões de fé pessoais sem qualquer fundamento científico


B) «coloquei alguns dos trabalhos que evidenciam que está enganado»

Comentário:
Estou enganado em quê? Pode dizer-me qual foi a afirmação em que me enganei? É que está a emitir conjecturas sobre afirmações que nem sequer identifica.
Tudo isso revela muita pouca objectividade, e muito pouco espírito científico.

C) «Ninguém disse que os eucaliptos não são susceptíveis, não foi essa a questão que levantou»

Comentário:
Estamos, portanto, de acordo sobre a natureza susceptível dos eucaliptos.


D) «Se evidenciasse o aumento da perigosidade com o aumento da continuidade horizontal dos combustíveis promovida por extensas plantações eu concordaria consigo»

Comentário:
Estamos de acordo, em absoluto.
Mas isso contraria o blá-blá do HPS e a desregulamentação introduzida pela nova legislação pela liberaliza as plantações florestais.


E) «se evidenciasse preocupação pelo abandono das áreas plantadas sem reconversão dos mesmo, eu também concordaria consigo»

Comentário: Estamos de acordo, em absoluto.
Aliás, quem promove o abandono das terras é quem defende como o HPS um modelo económico capitalista em que as dinâmicas de crescimento económico acabam por se traduzir na industrialização e terciarização, logo no abandono das áreas rurais.

F) «um dos dois artigos (as únicas referências que considero objectivas»

Comentário:
O que o meu Caro Interpelante considera objectivo é de carácter algo subjectivo, não acha?


G) «potencial invasivo pode manifestar-se em plantações abandonadas (mais susceptíveis a incêndios do que as que têm gestão activa (…)Mais preocupantes e difíceis de controlar são as acácias e o ailanthus … e vejo poucos a preocuparem-se com elas.»

Comentário:
Não posso estar mais de acordo relativamente aos benefícios da gestão activa. Mas não confundir gestão activa com gestão lucrativa, e muito menos com gestão para o mercado.


H) «Os problemas surgem essencialmente da falta de gestão e abandono (não só agrícola) das terras»

Comentário:
Não podia estar mais de acordo com o Meu Caro Interpelante.
Resta agora conhecer e perceber porque é que há falta de gestão e de abandono.
Não será porque o lucro é que determina hoje em dia o comportamento dos agentes económicos?
Tire agora as suas conclusões de quem é o responsável pela situação.
Obviamente, que o HPS não consegue chegar a esse ponto. A ideologia pessoal dele não lhe permite.



Os meus cordiais cumprimentos

Anónimo disse...

Embora não tenha partido verifica-se que ainda existe muita gente com orgulho no BPN , BPP , SLN , na Tecnoforma , dos Desvios dos fundos comunitários , nos Swap´s , nos empossados das " PPP's " , nos Submarinos e em campanhas Fraudulentas como na Destruição do Pais e a escravização do povo. Por outro lado as ruas vão se enchendo de satisfeitos idolatrando os políticos do pote sempre que aparecem. Parece que afinal o crime compensa. Toda a oposição deveria talvez passar mais vezes em Cabo Verde ou tentar a tal formação para reconhecer melhor as vacas que riem enquanto o povo foge, ou ainda arranjar um emprego de peludo comentador de jornais online em campanhas fraudulentas e de desinformação execrável a favor do Governo de ladrões. A farsa continua, o estado é o maior provocador de desemprego, desde logo pelos organismos que nada fazem ou defendem, basta ver o despedimento coletivo ilegal do Casino Estoril de 112 trabalhadores que unicamente foram substituídos por outros em regime de outsourcings. Passam já mais de 3 anos em que a justiça atrasa a verdade e faz criar nas pessoas um desequilíbrio moral e emocional. Não acreditamos em Europa nem justiças, acreditamos mais em pobreza e morte. Os governos não produzem nada e ganham mais e enriquecem à custa de quem trabalha…….Disse.

Unknown disse...

oh meu caro anónimo, até na bibliografia que você refere, se tirar as palas e ler o que lá está, se o eucalipto for plantado em compassos apertados e não for removida a folhagem que ele produz, o risco de inc~endio aumenta. Já que refere à tal bibliografia, um dos factores apontados como mau é o facto de o eucalipto não gerar outras plantas debaixo dele. Assim sendo, como pode arder um terreno onde não cresce nada??? Se for criada uma descontinuidade vertical e horizontal dos combustíveis, como pode um terreno arder? Já visitou alguma exploração de eucaliptos onde é feita a seleção de varas, se respeitam os compassos de plantação e se fazem limpezas de matos? já comparou estes "malvados" eucaliptais com pinhais carregados de matos e urzes e tojais que não são limpos? Posto isto so me apetece perguntar, vale mais ter um terreno limpo e ex+plorado onde se gera riqueza e emprego ou grandes áreas abandonadas de pinhal ? Qualquer floresta em clima mediterranico está sujeita a fogo, é algo natural , basta ver onde ha climas mediterranicos e onde ha fogos florestais enormes todos os anos!! Ou secalhar a Grécia e a Califórnia (por exemplo) ardem violentamente dada a grande quantidade de eucaliptos que lá há. E já agora, alguma vez consultou as estatísticas sobre as ignições no mundo? Como consegue Portugal, este país enorme, ser o recordista mundial em termos de ignições? Já leu sobre a qualidade da deteção dos focos de incêndio, nomeadamente da rede nacional de postos de vigia?? Já viu eucaliptos suicidas que decidem "hoje vou-me matar e vou-me imolar" e puff, pegam fogo??? Secalhar é um problema multidisciplinar e multicultural, digo eu, mas já que o entendido é o sr anónimo, explique-me lá como se eu fosse muito burro e so conseguisse ler o que me interessa, essa relação direta entre o nº de eucaliptos, a sua área e a relação de área de eucaliptal ardida relativamente á area total ardida, para ver se me convence. E se precisar pode sempre consultar o inventário florestal nacional ou algo do género. Bem haja !

Luís Lavoura disse...

Caro anónimo,

em relação ao "eucalyptus litter", ou seja, ao lixo provocado por eucaliptos, a minha experiência, que sou proprietário de eucaliptais mas também de carvalhais, é que um carvalhal tem invariavelmente muito mais lixo do que um eucaliptal. O eucaliptal cresce numa mancha muito densa, que cobre completamente o solo de sombra e não deixa crescer mato quase nenhum. O eucaliptal não faz praticamente lixo, pelo menos no regime em que é deixado crescer doze anos e depois cortado, que é o regime normal de exploração; só após o corte é que fica lixo sobre o solo, mas os madeireiros são obrigados por lei a levá-lo (e o que não levam, embora seja de facto inflamável, acaba pr servir como estrume para a terra). Um carvalhal, pelo contrário, se não fôr limpo (todos os anos até aos dez anos de idade, depois disso com menos regularidade), fica cheio de lixo: matos, silvas e o diabo a quatro, tudo material belissimamente inflamável.

E aquilo que mais arde em Portugal não são, evidentemente, eucaliptais: são matos com árvores nascidiças e dispersas, terrenos abandonados que ninguém limpa. O principal problema em Portugal não são os eucaliptos nem os pinheiros, é o mato nas terras que estão ao abandono.

Henk Feith disse...

Caro Luís,

Claro que subscrevo as tuas conclusões em relação à inflamabilidade do eucalipto ou de outro combustível vegetal qualquer.

Tenho participado em dezenas de ações de combate a incêndio florestal (ainda na semana passada estive no Caramulo) e o que me assusta não são eucaliptais a arder, são formações vegetais densas com uma elevada distribuição espacial de material fino, seja de que origem for (podem ser matos, silvados, pinhais bastios densos ou eucaliptais densos com vegetação em subbosque, tal como sobreirais ou montados com elevado carga de combustível no subbosque). É de fugir a tempo, para não haver as desgraças como temos visto, infelizmente.

O eucalipto vem aqui a baile, como não veio no incêndio de Mondim de Bastos ou Alfândaga da Fé este ano, ou São Brás de Alportel em 2012, porque convém ao movimento anti-eucalipto. Ninguém acusou o sobreiro do incêndio da serra Algarvia do ano passado, apesar de ter sido 90% dos 20 mil ou mais hectares que lá arderam.
Como é o seu suposto caráter invasor do eucalipto, o seu efeito na desertificação do mundo rural, da "esterilização do solo" (gosto deste) etc etc. É o vale tudo, desde que se possa malhar na espécie-diabo, culpa de tudo.

O problema não está na espécie A, B ou C, está na qualidade de gestão dos espaços florestais.

Mas pronto, sou suspeito porque meu salário provém desta árvore danada. Aliás, como milhares e milhares de outras pessoas que vivem de e sobrevivem no mundo rural.

Um abraço,

Henk Feith

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Nuno Teixeira Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jaime Pinto disse...

O eucalipto é uma espécie australiana, invasora e feia (na minha opinião e na de muita gente). Seca nascentes, linhas de água e fontes. Arde exactamente nas mesmas circunstâncias em que ardem os pinheiros, e com igual perigosidade (caro Heink Feik informe-se sobre o incêndio de há 15 dias em Alvares - Góis. Não afaste assim tão descaradamente a brasa das suas sardinhas :-). É uma tristeza esta espécie alienígena ser maioritária na floresta portuguesa. Defender-lhe acerrimamente a inocência ecológica, ambiental e paisagística, só por malícia interesseira ou espírito de contradição.

Contudo Portugal está no tapete em termos económicos. A ecologia e o ambiente não coloca no prato a sopa e conduto que todos precisamos para sobreviver. Quando muito alimenta o espírito dos ambientalistas-urbanos, nos quais me incluo, apesar de passar desde miúdo grande parte da minha vida na serra. Serra onde no que é meu não quero eucaliptos...porque canto de galo. Tivesse eu que desencantar uns trocos para dar uma vida digna à minha família, pois é evidente que os eucaliptos seriam uma hipótese a considerar e logo mandaria a minha espiritualidade ecológica às ortigas.

Dizer que as celuloses são a besta que tudo come e nada deixa, uma espécie de vampiros do José Afonso, é uma treta idêntica à apontada anteriormente (a da inocência dos eucaliptos). Sei de pessoas da minha família, que viveram uma vida de austeridade, não são pobres porque toda a vida aforraram à custa de trabalho muito duro e baixo rendimento, que choraram baba e ranho quando o fogo de Alvares lhes queimou os eucaliptos. Choraram porque as perdas económicas foram muitíssimo grandes em termos do seu orçamento familiar, não por serem choramingas. Choraram porque efectivamente vale a pena os pobres com o seu cantinho de terra plantarem eucaliptos.

Mesmo com as celuloses a desvalorizarem os eucaliptos dos pobres em 10/100, ou valorizando os deles e daqueles que gerem em 10/100, compensando assim o terreno deixados pelas celuloses em "área de grande interesse ecológico" (não há almoços grátis...apesar da qualidade da madeira ser exactamente a mesma, exceptuando o rótulo da certificação...) pois é evidente que vale a pena os pobres plantarem eucaliptos nos cantinhos deles.

O eucalipto não é o céu nem o inferno. Extremarem-se posições, como as de HPS ou de VSM, apenas revela que as elites intelectuais portuguesas, à semelhança dos pobres de espírito das claques dos futebóis, as vizinhas dos bairros à discussão, os parceiros da sueca que quase chegam a vias de facto, têm os mesmos genes lusitanos, guerreiros e algo fanáticos, provavelmente os mesmos que nos retiraram da soberania espanhola, eles queriam lá alguma coisa com tal gente :-).

Jaime Pinto disse...

Peço desculpa ao Henk Feith...

Henrique Pereira dos Santos disse...

Jaime,
Estamos pois de acordo que o eucalipto não é o principal combustível dos fogos e que tem uma relevância económica que não pode ser ignorada.
São as duas únicas coisas que disse sobre eucaliptos.
Sendo assim por que razão a minha é uma posição extremada e a sua, que é igual nestes dois únicos pontos em que falei de eucaliptos, não é?
Henrique pereira dos santos

Luís Lavoura disse...

Jaime Pinto,
que o eucalipto é uma espécie australiana toda a gente sabe, que é uma espécie feia eu também estou de acordo. Agora, invasor é que o eucalipto não é. O eucalipto em Portugal propaga-se mais ou menos como os cães, ou seja, principalmente por efeito da ação do Homem: é o Homem quem cria os cães e quem planta os eucaliptos. É relativamente fácil erradicar eucaliptos de um qualquer terreno - eu já o fiz em mais do que um dos meus terrenos. Invasoras são as acácias, as silvas, as canas - essas sim, espécies perigosíssimas, que se propagam rapidamente sem precisarem do Homem para nada e que são dificílimas de erradicar.

Jaime Pinto disse...

Henrique, dito assim dessa maneira realmente estamos de acordo. O problema será a forma algo fogosa como escreve, ou extremada, usando um termo seu. Também o facto do Henrique proceder como os treinadores da bola, enfatizando vitórias (os eucaliptos ganham em matéria económica) transformando empates em vitórias (eucaliptos e pinheiros ardem por igual) e ignorando as derrotas (pouco se lê escrito por si sobre eucaliptos vs espécies florestais autóctones em questões ambientais) não será alheio as críticas que recebe.

Luís Lavoura, dito dessa maneira poderá não se considerar uma espécie invasora. Mas então como se chama a uma espécie não nativa plantada por portugueses que em muitos locais se observa em exclusividade em toda à volta que a vista alcança? convidada? :-) Quanto à facilidade em erradicar eucaliptos, o Luís fale por si. Asseguro-lhe que o dinheiro que gastou em remover a toiça não está ao alcance de toda a gente.

Luís Lavoura disse...

o dinheiro que gastou em remover a toiça não está ao alcance de toda a gente

Sem dúvida que não Jaime. Mas olhe a seguinte alternativa. Eu tinha umas terras minhas que não tinham árvores (eu acabara de cortar as que lá estavam) e eu queria florestar. Por boa consciência ambiental, plantei-lhes carvalhos (não nativos mas americanos, Quercus rubra). Os carvalhos estão a crescer, mas demoram muito e, como não cobrem o solo, todos os anos (pelo menos uma vez por ano) tenho tido que mandar limpar essas terras de mato. E, pode crer Jaime, o dinheiro que eu tenho gastado a limpar essas terras, ano após ano após ano, não está ao alacance de toda a gente.

Em compensação, numas outras terras minhas em que eucaliptos foram plantados há uma dezena ou mais de anos, nunca tive que fazer uma limpeza, ou então só faço uma limpeza de seis em seis anos (ou de três em três, em terras especialmente húmidas).

Ou seja, na prática, pode ser caro remover eucaliptos, mas muito mais caro é remover o mato que cresce quando não há eucaliptos. É esse o cálculo que faço.

Luís Lavoura disse...

(Lá em cima, quando enumerei espécies invasoras que me perturbam deveras, esqueci-me dos salgueiros, uma árvore também deveras horrível, que cresce a esmo em terrenos húmidos e que também custa bué a erradicar.)

Jaime Pinto disse...

Luís Lavoura, permita-me alguns comentários sobre as sua opções. Os carvalhos americanos foram uma escolha felicíssima. Também eu já andei para plantar alguns nuns "bocados" que me calharam na serra. Desde que verifiquei o quanto eram belos e o porte que rapidamente alcançavam, pelo menos assim aconteceu junto à expo (foi essa a informação que obtive) não sei se à custa de adubagens milagrosas, fiquei maravilhado com essas magníficas árvores. Cheguei a colher bolotas de um dos que me pareceu maior e mais bonito. Quanto às suas limpezas anuais ou bianuais dos matos nos terrenos onde plantou os carvalhos, sinceramente não vejo necessidade alguma de as fazer. Caso se fizessem limpezas anuais de matos em todos os terrenos onde se plantam florestas a faxina ficaria a um preço exorbitante. Aqui que ninguém nos ouve, planta-se e a natureza que trate do resto, exceptuando, é evidente, casos onde haja construções a menos de 50 metros. Uma limpeza de x em x anos ainda se compreende. Limpar de matos anualmente todas as áreas florestais é conversa da treta, parece bem na tv quando se fala de fogos. É no entanto absolutamente irrealista.

RioD'oiro disse...

HPS:

"Confesso, já o disse noutro contexto, que discutir fogos a partir do que aparece na televisão é como discutir física quântica a partir dos livros do Tio Patinhas."

Tem razão. Mas ele vive no mundo do que parece.